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Novembro Azul: Tabu e preconceito atrapalham prevenção do câncer de próstata

Especialistas reforçam importância do toque retal e do exame de PSA para diagnóstico precoce

Por: Lorena Bomfim

03/11/202508:00

Apesar dos avanços na medicina e das campanhas de conscientização, o preconceito em torno do exame de toque retal ainda é um obstáculo importante para o diagnóstico precoce do câncer de próstata.

Exames preventivos permitem identificar o câncer de próstata ainda no início.
Foto: Portal Gov

A mortalidade por câncer de próstata cresce na Bahia, segundo dados do painel estadual de saúde: em 2023, a doença causou 1,6 mil mortes — 19,1% dos óbitos por neoplasias em homens — e a taxa subiu de 14,6 para 23 por 100 mil habitantes desde 2000.

 A avaliação do urologista Dr. Lucas Novas, médico do Serviço de Urologia do Hospital Português (HP), que lembra que essa resistência pode atrasar o início do tratamento e reduzir significativamente as chances de cura.

“Muitos homens ainda evitam procurar o urologista por causa do tabu relacionado ao toque retal. Isso faz com que o câncer seja identificado muitas vezes em estágios mais avançados, quando o tratamento é mais complexo e as taxas de cura são menores”, explica o especialista.

O toque retal é simples, rápido e pode ser realizado em qualquer unidade de saúde por um médico capacitado. O exame permite identificar nódulos ou endurecimentos na próstata, sinais que podem indicar a presença da doença.

Além do toque, é recomendado anualmente o exame de sangue PSA, marcador específico da próstata. Em caso de alterações, o médico pode solicitar uma ressonância magnética para aumentar a precisão da investigação. A confirmação definitiva, quando necessária, é feita por meio de biópsia prostática.

Quando começar a prevenção

Para a população em geral, o rastreamento deve iniciar aos 50 anos. No entanto, homens negros e aqueles com histórico familiar de câncer de próstata devem iniciar os exames a partir dos 45 anos, devido ao risco aumentado.

O grande desafio, segundo Dr. Lucas, é que o câncer de próstata costuma ser assintomático em sua fase inicial. “Sintomas como dificuldade para urinar, dor óssea ou sangue na urina são sinais de alerta, mas geralmente aparecem em estágios mais avançados. Por isso, a prevenção é fundamental”, destaca.

“Se não fosse minha esposa insistir, eu talvez não estivesse aqui”

O pedreiro Antônio Souza, 58 anos, relata que só procurou o urologista após insistência da esposa. Ele conta que sempre teve resistência ao toque retal, mas decidiu enfrentar o receio após ver campanhas sobre o tema.

“Eu tinha muito preconceito mesmo, ficava fazendo piada, dizia que nunca faria. Mas minha esposa começou a insistir, dizendo que era questão de saúde e que ela queria me ver bem. Fui, fiz o exame e descobrimos o câncer ainda no começo. Fiz o tratamento e hoje estou curado. Se eu tivesse esperado sentir algo, talvez fosse tarde. Então, digo para outros homens: parem com essa bobeira e se cuidem.”

O depoimento reforça o papel fundamental da família e da informação na mudança de comportamento.

Fatores de risco e aumento entre homens mais jovens

O coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital Português, Dr. Alberto Nogueira, chama atenção para os principais fatores de risco da doença. A idade é o mais significativo — a partir dos 50 anos, a probabilidade aumenta de forma expressiva. Além disso, histórico familiar em parentes de primeiro grau duplica o risco.

“O estilo de vida também influencia. Obesidade, sedentarismo, tabagismo e dietas ricas em gorduras saturadas e pobres em fibras podem contribuir para o desenvolvimento da doença”, ressalta o oncologista.

Nas últimas duas décadas, entretanto, a medicina tem observado um aumento de aproximadamente 5% nos casos entre homens com menos de 50 anos. Para esses pacientes, o fator genético costuma ser o principal responsável. “Homens com histórico familiar devem iniciar o rastreamento antes da idade habitual”, reforça.

Tratamentos menos invasivos e novas tecnologias

Os especialistas ressaltam que o diagnóstico precoce é a maior arma contra o câncer de próstata. Quando identificado no início, as taxas de cura são extremamente altas e, muitas vezes, o tratamento pode ser menos agressivo.

Entre os avanços médicos, a radioterapia moderna tem se destacado como alternativa eficaz, com técnicas que preservam os tecidos saudáveis ao redor da próstata e, em alguns casos, podendo até substituir a cirurgia. A hormonioterapia também permanece como uma das bases do tratamento, proporcionando controle prolongado da doença com menor impacto na qualidade de vida.

Conscientização é o principal caminho

Para os especialistas, combater o preconceito é essencial para reduzir a mortalidade da doença.

“O toque retal é rápido, simples e pode salvar vidas. Quanto antes o câncer de próstata é descoberto, maiores são as chances de cura e menores os impactos do tratamento”, reforça Dr. Lucas.

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