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De frases motivacionais aos atos diários: ser gentil não paga nada

Populares e especialista abrem o jogo sobre empatia e generosidade no Dia Mundial da Gentileza

Por: Ludmilla Cohim

13/11/202508:00Atualizado

Você já teve a percepção do quanto a cordialidade por meio de frases como “muito obrigada!”, “licença!”, “posso ajudar?”, “bom dia!” estão cada vez menos presentes na sociedade? Em um cenário, muitas vezes hostil, criar laços sociais e ser gentil tem se tornado uma iniciativa revolucionária.

Dia da Gentileza
Foto: Ilustrativa/Reprodução/ Freepik

Um levantamento recente do World Happiness Report 2025 observou há mais de 10 anos os estágios de felicidade em âmbito mundial. O estudo apontou que, em 150 países, gestos gentis permitem que os indivíduos vivenciem a sensação plena de alegria.

Reflexo disso está no gesto da gentileza, comemorado mundialmente nesta quinta-feira (13), e lembrado pelo Portal Esfera. Além de ouvir pessoas que já foram afetadas diretamente pela falta de ações gentis, assim como outras que optaram por utilizar gestos de amabilidade e no amor ao próximo, sem esperar nada em troca, a reportagem conversou com uma profissional comportamental.

A psicóloga clínica e mestre em aprendizagem, Adriana Borges, de 45 anos, explica como a crescente falta de gentileza no mundo impacta de forma negativa na saúde mental do indivíduo e em suas relações sociais. Consequências como relações marcadas por impaciência, agressividade e individualismo, são evidentes nesse tipo de convívio, o que impulsiona o nível de estresse e a sensação de insegurança emocional, junto a contribuição severa de quadros de ansiedade e irritabilidade. 

“A gentileza funciona como um comportamento contagioso: quando praticada, inspira reciprocidade; quando ausente, abre espaço para desconfiança, defensividade e distanciamento emocional. Isso dificulta a construção de empatia, que exige olhar para o outro, reconhecer suas necessidades e validar suas emoções. Consequentemente, as relações ficam mais superficiais e a sociedade se torna menos colaborativa, menos tolerante e mais polarizada”, avalia.

No processo de ser amigável, características como parentalidade gentil é relevante, visto que a formação da gentileza começa no ambiente familiar.  

“É preciso praticar o exemplo, pois crianças aprendem mais pelo que veem. Ajudar a identificar sentimentos contribuem no desenvolvimento da empatia e da autorregulação emocional. Estimular a cooperação, é importante nos quesitos de dividir brinquedos, ajudar um colega, fortalecem a consciência coletiva. Ensinar limites com afeto, além de valorizar comportamentos pró-sociais, como reconhecer atitudes generosas reforça o comportamento positivo”, orienta Adriana. 

Explosão de mensagens de autoconhecimento nas redes sociais

As mídias digitais se tornaram uma plataforma de livre acesso e completamente democrática com assuntos também focados na motivação diária, de autoajuda e debates, especialmente por meio de lives. O que antes era apenas buscado dentro de consultórios médicos, hoje, ganhou um aliado. A prática é exercida por meio de influenciadores digitais, terapeutas e pessoas comuns, que compartilham uma série de pensamentos visando oferecer frases e vídeos de impacto, que contribuam em ajudar o internauta a se reerguer pessoalmente, bem como profissionalmente.

Para a especialista, as mensagens motivacionais podem ser um complemento emocional válido, mas não substituem a psicoterapia e, quando mal formuladas, podem gerar mais pressão do que acolhimento. Ela orienta que os conteúdos sejam consumidos com consciência, e destaca o processo terapêutico como espaço principal para orientação, análise e construção verdadeira de bem-estar.

Danos da falta de gentileza

De olho na sociedade, a reportagem percorreu alguns pontos de Salvador para conversar com populares. Parte do público entende que a ausência de gentileza está presente em atividades cotidianas, a exemplo dos transportes públicos e do trânsito.

Com 53 anos de vida, a servidora pública Nívea de Jesus utiliza ônibus pelo menos três vezes por semana. Em meio a rotina, ela revelou que fica desapontada com a hostilidade, falta de respeito com gestantes e pessoas idosas. 

“As pessoas fingem que estão dormindo em assentos preferenciais para idosos e gestantes, quem está sentado não costuma ser cortês para segurar os pertences de quem tá em pé. Enfim, já vi de tudo, penso que a raiz é a educação. Acredito em campanhas intensas em escolas para instruir desde cedo sobre o caminho adequado, desde a infância. Falta valor e princípios. As pessoas não têm respeitado e ajudado os outros”, explica.

A manicure Cleide Dias, de 33 anos, é residente do bairro de Boca do Rio. No dia a dia, ela já viu de quase tudo, mas um episódio especial marcou a trajetória de usuária do transporte público. Isso porque o choque foi grande quando, ao ver uma pessoa com deficiência visual que tentava descer de um transporte público, parou para ajudar, mas ouviu reclamação de outra passageira pela demora: “Tive que respirar fundo. Cheguei passando mal no trabalho ao notar a maldade, falta de gentileza e egoísmo alheio.”

Situações semelhantes foram também relatadas pela jovem Nathali Santos Gomes.  Moradora de Mussurunga, ela utiliza cerca de três ônibus para se deslocar e retornar ao curso presencial de rede de computadores. Mesmo com a mente solidária, a garota se decepciona com as ações do próximo. “Acho tão triste diariamente perceber que a falta de gentileza com os demais se banalizou.  Eu, particularmente, às vezes nem sento, justamente para deixar livre para quem necessita sentar mais do que eu”, diz, aos 19 anos. 

Gentileza como antídoto
 
Movida pelo sentimento de fazer a diferença na vida de quem mais precisa, a lash designer, Vanessa Campos da Costa, de 32 anos, executa atos de gentileza não só no dia 13 de novembro, como em outras oportunidades durante o ano. 

Em entrevista ao Portal Esfera, a profissional de estética conta que mobiliza cerca de 33 pessoas para recolher de vários amigos próximos produtos de uso pessoal para distribuir aos moradores de rua de diversas partes da capital baiana.  

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal


“Essa iniciativa teve um significado muito especial. Me fez enxergar o quanto podemos ser instrumentos de amor e esperança na vida de outras pessoas. Foi um momento de aprendizado, gratidão e reflexão sobre o verdadeiro valor das coisas”, vibra.

Vanessa ainda aproveitou o espaço da reportagem para citar os benefícios diretos de quem se envolve em uma corrente do bem: “Ser gentil não custa nada, mas tem um valor enorme. Às vezes, um sorriso, uma palavra amiga ou um simples ato de cuidado pode mudar o dia ou até a vida de alguém. Quando espalhamos o bem, ele sempre volta pra gente!”.

Arquivo pessoal

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