Atividade física dá gás a combate da ansiedade e depressão
Especialistas abrem o jogo ao Portal Esfera sobre realidade de doenças em alta
Por: Ludmilla Cohim
06/11/2025 • 07:00 • Atualizado
O Brasil vive em alerta pelos aumentos importantes de casos de depressão e ansiedade, situação que tem afetado diariamente a vida da população. Segundo informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em setembro de 2025, mais de 1 bilhão de indivíduos convivem com problemas mentais.
A sobrecarga de informações e tarefas, além de um cotidiano cada vez acelerado têm sido alguns dos desafios e razões para os registros dessas patologias de forma tão exacerbada. Neste contexto, a prática de exercícios físicos entra como uma aliada tanto na prevenção das doenças mensuradas, como também no tratamento delas.
Poder da atividade física X Tabu da masculinidade
O Portal Esfera ouviu especialistas de diversas áreas para entender o tema em questão. De acordo com o psiquiatra Eduardo Gama, de 35 anos, são diversas as evidências que a atividade física age diretamente na prevenção e no tratamento da depressão e da ansiedade.
Ele lembra que, um estudo publicado no JAMA Psychiatry, realizado em abril de 2022, com mais de 190 mil indivíduos, detectou que até uma hora e meia por semana de atividade leve a moderada, a exemplo da caminhada, o risco de desenvolver depressão cai para 18%. Já para a OMS, quando a pessoa faz 150 minutos semanais de exercícios, essa redução vai para 25%.
“O principal ganho vem quando a pessoa sai do sedentarismo. Pouco é melhor do que nada. Caminhar regularmente, subir escadas, se movimentar, já faz uma grande diferença. O ideal é escolher algo prazeroso e sustentável, caminhada, yoga, pilates, musculação, natação. O que importa é manter a constância”, orienta.
Ainda de acordo com o profissional, 60% da procura por atendimentos psiquiátricos são por mulheres, visto que é perceptível o estigma relacionado à masculinidade: “Muitos homens cresceram ouvindo que ‘não podem demonstrar fraqueza’ ou que ‘precisam aguentar tudo’. Isso atrasa a busca por ajuda, e eles acabam chegando quando o quadro já está mais grave. Mas isso vem mudando aos poucos, vejo cada vez mais homens procurando tratamento e reconhecendo que também precisam cuidar da mente.”
Depressão e ansiedade
A depressão e a ansiedade estão entre as principais causas de afastamento do trabalho e de incapacidade em âmbito mundial. “Muitas vezes igualando-se até com doenças crônicas como hipertensão, diabetes e artrite, quando a gente fala em impacto funcional e perda de produtividade. É muito comum ver pessoas jovens, produtivas, que param de trabalhar ou estudar por conta do sofrimento emocional”, destaca Gama.
Como forma de impulsionar hábitos saudáveis, ele ainda aconselha: “Importante ter um sono adequado, alimentação saudável e prática regular de atividade física é o básico. Mas também é importante reservar tempo para pausas, lazer, vínculos sociais e atividades que tragam sentido à vida. Reduzir o uso excessivo de telas e cultivar momentos de silêncio e reflexão ajudam muito. E claro, procurar ajuda profissional ao primeiro sinal de sofrimento (não esperar “passar sozinho”).”
Na visão do acupunturista e professor de Yoga, Paulo Henrique Paiva, de 33 anos, uma característica predominante da ansiedade e da depressão é o excesso de pensamentos. A ideia é que, quanto ao padrão respiratório, existe a chance da modificação do estado emocional do indivíduo “Esse é um ponto chave no tratamento da ansiedade e depressão”, opina.
A procura por yoga é maioritariamente por mulheres, com cerca de 70% de atuação, no estabelecimento onde o profissional atua. Ele garante que a grande maioria busca a yoga na tentativa de conquistar um estilo de vida mais saudável e equilibrado.
“Reduzir o estresse e aprender a gerenciar nossas emoções, através do yoga e da meditação melhora a nossa saúde de modo geral e o yoga pode ser um excelente aliado na maioria dos tratamentos e também como prevenção”, enfatiza.
Outro método, apontado pelos especialistas como valoroso no processo de depressão e ansiedade é o pilates. A prática tem o poder de melhorar a força, postura, mobilidade, flexibilidade, além de estimular a respiração consciente, provocando a redução do hormônio do cortisol, que costuma impulsionar o estresse, a ansiedade e aumentar a liberação da endorfina, seretonina e dopamina, que ajudam no humor e na queda considerável de sintomas depressivos.
Arquivo pessoal
A especialista em pilates, Klévia Barboza, conta que a procura maior pela atividade é por mulheres da terceira idade, e 10% do público do seu studio, em Salvador, são homens, dando força a ideia da população não aderir a mentalidade preventiva à doenças.
“Vejo muita resistência da parte dos homens, muitos têm uma visão limitada da prática acreditando ser apenas alongamento e para idosos. O que não é verdade. O Pilates é uma prática de exercícios muito completa e é para todos os públicos. Até as crianças se beneficiam do método”, comenta.
Klévia enfatiza ainda que tem alunos com várias patologias, desde problemas ortopédicos, a problemas como ansiedade e depressão. “Pilates trabalha corpo e mente juntos. O equilíbrio entre corpo, mente e respiração é o que torna o método Pilates tão transformador na vida das pessoas”, adverte.
Histórias de superação
Ao Portal Esfera, o nutricionista Bruno França, de 42 anos, relata que a musculação está presente em todos os dias da sua vida e representa uma das principais formas de autocuidado. “O exercício é uma das coisas que mais me ajuda com a ansiedade. Depois de treinar, sempre me sinto mais calmo e leve. Parece que a cabeça desacelera, sabe? Além disso, manter uma rotina de treinos me dá uma sensação boa de controle e organização, o que faz bastante diferença nos dias em que estou mais ansioso”, detalha.
Arquivo pessoal
Mesmo focado nos exercícios físicos, ele também ressalta o poder da alimentação para equilibrar o corpo e a mente. “Como nutricionista preciso dizer, que comer bem ajuda a estabilizar o humor e a energia ao longo do dia. Alimentos ricos em magnésio, ômega-3 e vitaminas do complexo B fazem diferença, e evitar exageros em açúcar e cafeína também ajuda bastante. Uma boa alimentação me faz sentir mais centrado e menos ansioso", enfatizou Bruno.
Já a dentista Rizia Souza, de 46 anos, aposta no Pilates três vezes por semana para conquistar uma melhor qualidade de vida. Ela contou, que tem um problema de coluna e está conseguindo viver sem dor por conta da prática, além de também se blindar da ansiedade. “Sou bastante ansiosa e com o Pilates consigo me concentrar melhor e consigo nesse momento da aula me reconectar”, destaca.
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