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Cuidados paliativos: tratamento ganha mais importância no fim de ano

Período reforça a representatividade do cuidado e da presença familiar em momentos delicados

Por: Sued Mattos

23/12/202508:00Atualizado

O cuidado paliativo, nome dado às ações de cuidado que priorizam o bem-estar e qualidade de vida de pessoas e seus familiares que convivem com uma doença grave que limita ou ameaça a vida, ganha ainda mais importância com a chegada do fim de ano.

Foto Cuidados paliativos: tratamento ganha mais importância no fim de ano
Foto: Acervo Pessoal/Fabiana Reis

As tradicionais festas de Natal e Ano Novo, símbolos de empatia, boas energias e acolhimento familiar, reforçam a necessidade de cuidar do ente querido que enfrenta alguma condição de saúde que necessita de uma atenção especial. 

Para Yanne Amorim, diretora médica do Hospital Mont Serrat de Cuidados Paliativos e coordenadora médica da clínica Florence, localizados em Salvador, o cuidado paliativo acolhe a vida em todas as suas fases e existe para aliviar o sofrimento, oferecer conforto e preservar a dignidade, mesmo quando a cura não é mais possível.

“No fim de ano, esse cuidado ganha um valor ainda maior. É um tempo de memórias, encontros e afetos. O paliativo ajuda a transformar esse período em um tempo possível de presença, de troca, de cuidado verdadeiro — onde a dor é aliviada e o amor pode permanecer em primeiro plano”, explica em entrevista ao Portal Esfera.

Leidiane Reis, viúva de Fabiano que passou por uma cirurgia na cabeça, e precisou posteriormente contar com os cuidados paliativos na Clínica Florence, afirma ao Portal Esfera que a prática foi essencial durante o momento delicado. 

“Os cuidados paliativos são importantes porque trazem conforto, aliviam a dor e ajudam o paciente a passar por esse momento com mais qualidade de vida. Eles também apoiam a família emocionalmente”, garante ela. 

Driblando o desconhecimento

Um dos grandes desafios para que pacientes tenham acesso á cuidados paliativos é a falta de conhecimento da existência desse tipo de tratamento e também a desinformação sobre o assunto, já que uma parte da população ainda acredita que os cuidados paliativos significam desistência.

A médica esclarece que a abordagem com as famílias, para iniciar o tratamento paliativo dos pacientes, começa na escuta. Segundo a profissional, a equipe busca entender o que a família vive, os medos e o que esperam. O cuidado paliativo precisa ser entendido como um amparo

“Existe, sim, resistência [das famílias] — muitas vezes motivada pelo medo e pela associação do paliativo à ideia de 'desistência'. Quando mostramos que ele é, na verdade, um cuidado ativo, que protege, alivia e acompanha, a resistência costuma se transformar em alívio e gratidão”, evidencia Amorim. 

Reis conta que, após o início do tratamento, o marido teve mais conforto durante o pós-operatório. 

“Percebi que o paciente ficou mais tranquilo, com menos dor e mais conforto. A rotina ficou mais leve e a família também se sentiu mais amparada”, diz ela. 

Acervo pessoal / Fabiana Reis

Acervo pessoal / Fabiana Reis


Lidiane Reis detalhou ainda que os cuidados paliativos ajudou no fortalecimento da autoestima e a dar mais acolhimento em meio a um processo desafiador.

“Eles ajudam o paciente a manter a autonomia, o respeito e o conforto, mesmo numa fase difícil. A equipe trata tudo com muito cuidado, humanidade e sensibilidade”, relata.

 

O tabu sobre cuidados paliativos

A médica Yanna Amorim reafirma que o desconhecimento como um dos maiores desafios é para a democratização dos cuidados paliativos. Além disso, existe um “tabu” na sociedade, segundo ela, em relação a esse assunto. 

“O maior desafio ainda é o desconhecimento. Pouco se fala sobre o direito de não sofrer, de ser cuidado com respeito e de participar das decisões sobre a própria vida. Também enfrentamos desafios de acesso, formação de profissionais e mudança cultural. Falar sobre cuidado paliativo é falar sobre humanidade, sobre escolhas e sobre dignidade — temas que precisam ocupar mais espaço nas conversas, especialmente em uma sociedade que ainda tem medo de falar sobre o fim”, explica Amorim. 

Leidiane, viúva de Fabiano, disse que durante o período de enfrentamento da doença já tinha ouvido falar sobre os cuidados paliativos, mas que não conhecia muito bem como funcionava. A informação chegou através de uma amiga que fazia parte de um grupo em comum:

“Suzan nossa amiga explicou a importância e mostrou que era uma opção para dar mais conforto nessa fase, e foi quando passamos por uma médica de São Paulo, Ana Paula. Foi quando percebemos que na fase que estava era importante levar o paciente."


Cuidados paliativos em Salvador

Na capital baiana, o Hospital Mont Serrat é o primeiro hospital público totalmente focado em cuidados paliativos no país. Inaugurado em janeiro deste ano e gerido pelas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), a unidade já soma mais de 1.600 pacientes atendidos. 

Ao todo, a unidade reúne 70 leitos clínicos de enfermaria (7 pediátricas e 63 para adultos), distribuídos em uma infraestrutura com ambulatórios, serviços de bioimagem, laboratório, telemedicina e suporte de ensino e pesquisa para capacitação dos profissionais internos e externos das unidades de saúde. 

Divulgação / Sesab

Divulgação / Sesab


O hospital possui capacidade para atendimento mensal de mais de 2 mil pacientes e interconsultas em diversas especialidades para pacientes internados, como cardiologia, anestesia, neurologia, psiquiatria e pneumologia, bem como unidades específicas para terapia da dor e apoio ao luto

A unidade conta também uma equipe multidisciplinar, reunindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos e bioquímicos, responsáveis pelo tratamento dos pacientes

O Mont Serrat tem uma média de ocupação de 89% e uma média de permanência de 10 dias. A taxa de alta se concentra em 29%. As principais causas da internação para cuidados paliativos são referentes à doenças neurodegenerativas, neurovasculares, respiratórias, cardíacas e câncer.