Animais sagrados do Egito: símbolos divinos e seres venerados
Sete criaturas que receberam culto, rituais e até mumificação
Por: Victor Hugo Ribeiro
30/08/2025 • 07:00
No Antigo Egito, os animais não eram apenas criaturas da natureza; eles ocupavam um lugar central na cultura e na espiritualidade, sendo vistos como manifestações diretas dos deuses. Acreditava-se que, quando uma divindade assumia a forma de um animal, toda a sua espécie passava a ser sagrada. Maltratá-los era um sacrilégio e protegê-los, um dever religioso.
Essa devoção era tão profunda que, nos últimos períodos da civilização egípcia, muitos desses animais eram mumificados em rituais elaborados, semelhantes aos rituais fúnebres dos humanos. Suas múmias eram depositadas em locais específicos, como a Necrópole do Animal Sagrado, em Saqqara, e eles recebiam cerimônias, túmulos e oferendas.
Confira abaixo sete dos animais mais reverenciados pelos egípcios.
1. Gato: a personificação da proteção e da harmonia
O gato doméstico era um dos animais mais venerados, associado à deusa Bastet, protetora do lar, da fertilidade e da música. Os egípcios viam os gatos como guardiões espirituais e físicos, pois eles defendiam as casas de pragas como ratos e cobras, além de afastar as energias negativas. A reverência era tão grande que, quando um gato morria, seus tutores raspavam as sobrancelhas em luto. Milhões de gatos foram mumificados, muitas vezes em sarcófagos próprios, com direito a rituais e oferendas.
2. Boi Ápis: a encarnação da força divina
O boi Ápis era uma encarnação viva do deus criador Ptah e, posteriormente, de Osíris, senhor do submundo. Apenas um boi era escolhido por vez para representá-lo. Ele devia ter marcas específicas, como um triângulo branco na testa e um desenho de escaravelho no pelo. Tratado como realeza, o boi Ápis vivia em Mênfis, com sacerdotes dedicados e alimentação especial, sendo exibido em festas religiosas. Após sua morte, ele era mumificado e enterrado em um grande funeral no Serapeu de Saqqara.
3. Íbis: o mensageiro da sabedoria
O íbis, uma ave de bico curvo e pernas longas, simbolizava Thoth, o deus da sabedoria, da escrita e da magia. Thoth era considerado o escriba dos deuses, e os egípcios acreditavam que o íbis era um animal sábio que trazia mensagens divinas. Milhares de múmias de íbis foram encontradas em locais como o templo de Tuna el-Gebel, onde sacerdotes criavam as aves em viveiros sagrados e as embalsamavam após a morte.
4. Falcão: a visão divina do céu
O falcão era o animal de Hórus, o deus do céu, da luz e da realeza. Representado como um homem com cabeça de falcão, Hórus tinha seus olhos simbolizando o Sol e a Lua. Ele era considerado o protetor do faraó, que era visto como sua encarnação na Terra. Por isso, falcões vivos eram mantidos e protegidos em templos. Após a morte, eram embalsamados com cuidado e enterrados, simbolizando a continuidade do poder de Hórus.
5. Cão: o guardião do além
Cães, especialmente os com aparência de chacais, eram associados a Anúbis, o deus dos mortos e dos rituais de mumificação. Com corpo humano e cabeça de cão, Anúbis guiava as almas no além, protegendo túmulos e garantindo a passagem segura para o submundo. Por essa razão, os cães eram vistos como protetores espirituais e viviam perto de cemitérios e templos funerários, sendo respeitados por toda a sociedade.
6. Crocodilo: a força dos deuses nas águas
O crocodilo, animal temido e respeitado, representava Sobek, deus do rio Nilo, da fertilidade e do poder militar. Acreditava-se que, com sua cabeça de crocodilo e corpo humano, Sobek protegia o Egito das ameaças externas, principalmente as que vinham pelo rio. Cidades como Kom Ombo tinham templos com crocodilos vivos, onde recebiam oferendas e cuidados. Após a morte, eram mumificados e enterrados, e muitas múmias de crocodilos já foram encontradas em escavações.
7. Escaravelho: o símbolo do renascimento
O escaravelho, um besouro que empurra bolas de esterco, fascinava os egípcios, que viam sua ação como uma representação do movimento do Sol no céu. Por isso, o associaram a Khepri, o deus do Sol nascente e da renovação. O animal se tornou um símbolo de transformação, vida eterna e proteção espiritual. Esculturas de escaravelhos eram usadas em amuletos, anéis e estatuetas, tanto por pessoas vivas quanto em tumbas, para acompanhar os mortos.
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