PF prende desembargador do TRF-2 em operação sobre vazamento para facção
Magistrado é suspeito de repassar informações sigilosas que teriam beneficiado o Comando Vermelho
Por: Redação
16/12/2025 • 08:56
A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira, 16, o desembargador Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), durante a segunda fase da Operação Unha e Carne. A ação apura o vazamento de informações sigilosas de investigações em curso, que teriam favorecido integrantes do Comando Vermelho, uma das principais facções criminosas do Rio de Janeiro.
A detenção ocorreu na residência do magistrado, localizada na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital fluminense. Além da prisão preventiva, os agentes cumprem dez mandados de busca e apreensão, autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com diligências no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
As investigações apontam que o desembargador teria repassado dados protegidos por sigilo no âmbito da Operação Zargun, comprometendo ações policiais e beneficiando o grupo criminoso. A PF apura a atuação de agentes públicos em conexão com organizações criminosas violentas em atividade no estado.
Operação Unha e Carne e ligação com políticos
Esta nova fase da Operação Unha e Carne é um desdobramento da investigação que levou à prisão do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, deputado estadual licenciado pelo União Brasil. Embora Bacellar tenha sido solto posteriormente por decisão do plenário da Alerj, ele voltou a ser alvo das diligências realizadas nesta terça-feira.
Segundo a Polícia Federal, a operação está inserida no contexto das determinações do STF no julgamento da ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, que atribuiu à PF a condução de investigações sobre a atuação de facções criminosas e suas relações com agentes públicos.
Nesta etapa, o foco recaiu sobre o desembargador que relatava processos envolvendo políticos suspeitos de ligação com o crime organizado. Macário Júdice Neto era o relator do caso que apura a relação de autoridades com o Comando Vermelho, incluindo o processo do ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias, preso por vínculos com a facção.
Divulgação PF
Desembargador já era conhecido da polícia
O nome de Macário Júdice Neto já figurava em investigações anteriores no Judiciário. Conforme apuração jornalística, ele passou 17 anos afastado da magistratura em razão de acusações relacionadas à venda de sentenças, quando atuava na Justiça Federal do Espírito Santo.
O primeiro afastamento ocorreu em 2005, por decisão do próprio TRF-2, em um processo que investigava sua suposta participação em um esquema ligado à máfia dos caça-níqueis. Embora tenha sido absolvido na esfera penal em 2015, o magistrado permaneceu afastado devido a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que se arrastou por anos no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em 2022, o PAD acabou prescrito por excesso de prazo, o que resultou na reintegração do juiz. Já em maio de 2023, Macário foi nomeado desembargador federal, após figurar como o primeiro da lista de antiguidade. A indicação foi encaminhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a posse ocorreu em solenidade no gabinete da Presidência do TRF-2.
A Operação Unha e Carne 2 segue em andamento, e a Polícia Federal não descarta novas fases nem o aprofundamento das apurações sobre o envolvimento de membros do Judiciário com organizações criminosas.
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