'Passei por violência psicológica que já partiu para o feminicídio' afirma Isabela Conde
Isabela Conde e Renata Deiró comentam desafios das delegacias especializadas e a importância do apoio psicológico e jurídico para vítimas de violência doméstica.
Por: Iago Bacelar
14/08/2025 • 13:06 • Atualizado
Isabela Conde, ativista e fundadora da ONG IC + Ampara Mulher, e Renata Deiró, advogada especializada em atendimento a mulheres, participaram, nesta quinta-feira (14), do programa Portal Esfera no Rádio, da Itapoan FM. Durante a entrevista, elas abordaram a violência doméstica, os desafios do sistema de proteção à mulher na Bahia e compartilharam experiências práticas de acolhimento e acompanhamento de vítimas.
Elas detalharam como a combinação de experiência pessoal, atuação jurídica e estrutura das delegacias influencia diretamente a proteção e o apoio às mulheres em situação de risco. "Passei por violência psicológica que já se partiu para o feminicídio", afirma Isabela Conde sobre apoio a mulheres.
Reconhecimento da violência e atuação das ONGs
Isabela explicou que muitas mulheres não se reconhecem como vítimas, principalmente quando passam por violência psicológica. "Eu não me reconhecia como violentada, confundia-se hipossessividade com amor", disse, reforçando a importância da conscientização e do acompanhamento profissional desde os primeiros sinais de abuso. Ela destacou que, mesmo sem agressões físicas ou verbais claras, a violência psicológica pode evoluir rapidamente para casos extremos, como o feminicídio.
A ativista enfatizou que o trabalho das ONGs é essencial para oferecer escuta qualificada e acompanhamento psicológico. Ela detalhou que a identificação precoce de abusos permite resgatar e apoiar mulheres em situação de risco, evitando que a violência evolua. Segundo Isabela, quando uma vítima chega a uma delegacia especializada e não recebe atenção adequada, a experiência pode desestimular futuras denúncias, reforçando a necessidade de profissionais treinados e sensíveis.
Desafios das delegacias e resposta do Estado
Renata Deiró explicou que ainda há déficit na estrutura de atendimento. Salvador, por exemplo, possui apenas duas DEAM, quando deveria ter pelo menos sete ou oito, e cidades vizinhas, como Lauro de Freitas e Simões Filho, não contam com unidades adequadas. Ela ressaltou que o governo federal criou os Núcleos de Atendimento à Mulher (Neam), mas que essas estruturas não substituem as DEAM, e que os policiais nem sempre estão preparados para lidar com casos complexos de violência.
"Neam não é Deam gente. É como se fosse uma salinha rosa dentro da delegacia. E aí acontece o que você falou. Os policiais do Neam não estão preparados", afirma Renata.
Renata afirmou que a violência contra a mulher ainda não é encarada como um problema de Estado e precisa de mais investimento, treinamento e prioridade política. Segundo ela, enquanto a pauta se limita a datas comemorativas, o enfrentamento da violência fica restrito, prejudicando mulheres que buscam ajuda diariamente.
O caso de Isabela Conde e a transformação em ativismo
Isabela contou que, em sua experiência, a violência foi extrema e o sistema muitas vezes falhou. Ela foi revitimizada ao buscar apoio na delegacia e só conseguiu sobreviver graças à sua resiliência e à criação recebida pela mãe. "Se eu não tivesse a coragem que tem dentro de mim, jamais estaria hoje trabalhando em prol da defesa em relação à violência doméstica", afirmou. Ela reforçou que a sociedade ainda responsabiliza a vítima, e isso agrava o sofrimento das mulheres que buscam justiça.
Hoje, Isabela e sua ONG atuam diretamente no acompanhamento de vítimas desde a fase inicial de abuso psicológico, oferecendo suporte legal e psicológico e buscando romper o ciclo de violência antes que ele evolua para casos extremos.
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