Efeito colateral do tarifaço dos EUA pode atingir os clubes brasileiros de futebol
Especialistas apontam impacto indireto da medida sobre o esporte nacional
Por: Iago Bacelar
01/08/2025 • 18:33 • Atualizado
O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, assinado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começa a valer a partir de 6 de agosto e pode gerar efeitos indiretos no futebol brasileiro. Embora o foco da medida seja econômico e diplomático, especialistas apontam que o aumento das tarifas pode repercutir negativamente no setor esportivo nacional.
A medida foi oficializada em decreto publicado pela Casa Branca na quarta-feira, 30, e é considerada uma resposta às ações do governo brasileiro. Segundo o comunicado, as decisões tomadas por autoridades brasileiras estariam prejudicando empresas dos EUA, direitos de liberdade de expressão, política externa e a economia americana.
Crise econômica pode afetar exportações e salários no esporte
Para o advogado tributarista Mozar Carvalho, do escritório Machado de Carvalho Advocacia, a sobretaxa imposta pelos Estados Unidos pode afetar a economia brasileira e, por consequência, impactar setores como o futebol. Segundo ele, uma recessão gerada pela medida pode afetar a capacidade de retenção de talentos no país.
"Imagine a economia do Brasil encolhendo com cerca de 120 mil empregos a menos e o real despencando, isso vai tornar, sem sombra de dúvidas, o salário em dólar e em euro para os atletas nacionais nos deixarem", afirmou o tributarista.
Ainda segundo Carvalho, uma eventual retaliação brasileira, com aplicação de tarifas semelhantes aos produtos norte-americanos, poderia aumentar os custos para clubes e torcedores. Ele alerta para o possível aumento nos preços de equipamentos e artigos esportivos utilizados por times brasileiros.
"Equipamentos esportivos importantes para os clubes vão ficar mais caros e com a política da reciprocidade, é certo que isso vai afetar os clubes brasileiros que vivem da utilização destes equipamentos", afirmou. O advogado destacou ainda que camisas, acessórios e outros itens podem sofrer alta nos preços caso haja dependência de importações americanas.
Setor vê risco indireto, mas mantém expectativa de estabilidade
Apesar dos possíveis efeitos econômicos, o setor esportivo brasileiro avalia que o impacto direto do tarifaço será limitado. Segundo Renato Jardim, diretor executivo da Ápice (Associação pela Indústria e Comércio Esportivo), o Brasil não exporta manufaturados esportivos para os Estados Unidos, o que deve minimizar o efeito imediato da medida sobre os clubes e fabricantes locais.
Jardim afirma que os produtos esportivos exportados pelo Brasil têm como destino principal países da América do Sul e que o setor é abastecido, majoritariamente, por importações vindas da Ásia, especialmente em itens como vestuário, calçados, acessórios e meias. Dessa forma, o risco direto para o segmento é considerado baixo, ao menos num primeiro momento.
Segundo dados da própria Ápice, o setor esportivo brasileiro movimentou R$ 5,6 milhões com a venda de artigos como camisas, calçados e demais produtos ligados ao futebol e a outras modalidades esportivas.
Clubes podem sentir os reflexos de forma indireta
Ainda que os produtos não sejam diretamente afetados, a valorização do dólar e a retração econômica esperada com a nova política de tarifas podem gerar repercussões indiretas nos clubes brasileiros. Com menor poder de compra, torcedores e consumidores podem reduzir o consumo de produtos licenciados. Ao mesmo tempo, clubes com contratos de importação ou dependência de equipamentos estrangeiros podem enfrentar novos desafios de custos.
Especialistas também alertam para um aumento das dificuldades na exportação de atletas, tanto pela desvalorização do real quanto pela possibilidade de maiores tributos sobre transações internacionais. Com menos recursos circulando no setor, o investimento em formação e infraestrutura também pode ser comprometido.
A evolução do impacto do tarifaço dependerá da resposta do governo brasileiro e das condições econômicas nos próximos meses, sobretudo em relação ao câmbio e à estabilidade comercial com os principais parceiros.
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