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Novembro Azul: Jovens também precisam estar atentos ao diabetes

Doença cresce entre adolescentes e adultos jovens no país

Por: Domynique Fonseca

04/11/202507:00Atualizado

O diabetes, uma das doenças crônicas mais comuns no Brasil, deixou de ser uma preocupação apenas de adultos mais velhos. Nos últimos anos, o número de casos entre adolescentes e jovens adultos tem crescido de forma preocupante reflexo do aumento do sedentarismo, do consumo de ultraprocessados e de hábitos alimentares cada vez mais irregulares.

Foto Novembro Azul: Jovens também precisam estar atentos ao diabetes
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 20 milhões de brasileiros convivem com a doença. A maioria (90%) tem diabetes tipo 2, relacionada a sobrepeso, sedentarismo e alimentação inadequada. Já o tipo 1, mais comum na infância e adolescência, tem origem autoimune e está ligada a fatores genéticos.

Segundo a endocrinologista Dra. Thaisa Trujilho, o crescimento dos diagnósticos entre jovens é um sinal de alerta.

“O aumento da prevalência de obesidade, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, é um fator fortemente associado ao risco de diabetes tipo 2, com evidências mostrando que cerca de três quartos dos adolescentes com diabetes tipo 2 apresentam obesidade no momento do diagnóstico”, alerta o médica.

Reprodução/ Instagram @drathaisatrujilho

Reprodução/ Instagram @drathaisatrujilho


“Mudanças no estilo de vida, como maior consumo de alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas e porções maiores, além da redução da atividade física e aumento do tempo de tela, contribuem para o ganho de peso e resistência à insulina", complementa.

Casos em crescimento

Um estudo publicado na revista The BMJ mostrou que, entre 1990 e 2019, a taxa de diabetes tipo 2 entre adolescentes e jovens adultos (15 a 39 anos) aumentou 56% em todo o mundo.

No Brasil, pesquisa publicada no Pediatric Diabetes Journal revelou que 1,46 milhão de adolescentes vivem com pré-diabetes e mais de 213 mil já têm o tipo 2 da doença.

Os sintomas mais comuns incluem sede excessiva, urinar com frequência, cansaço constante, fome exagerada, boca seca e visão turva. Mesmo assim, o diagnóstico ainda costuma demorar, o que aumenta os riscos de complicações no coração, rins, olhos e sistema nervoso.

“O diabetes me fez reorganizar minha vida”

O publicitário e criador de conteúdo Antonio Lêvi, 23 anos, descobriu o diabetes aos 11. Desde então, transformou a vivência em aprendizado, e em fonte de informação para outras pessoas.

Reprodução/ Instagram @vidatipoum

Reprodução/ Instagram @vidatipoum


“Comecei a sentir fraqueza e emagreci rápido. Minha mãe me levou ao médico e veio o diagnóstico. A adaptação à insulina foi simples, mas mudar a alimentação e a rotina foi difícil. Até hoje, 12 anos depois, é um desafio manter as escolhas saudáveis", relembra.

Levi explica que o impacto do diabetes vai além do físico. “As pessoas ainda têm muita desinformação. Falam dos ‘chás milagrosos’, ou contam histórias assustadoras. Mas com acompanhamento médico e disciplina, é possível ter uma vida normal. O diabetes não limita, ele ensina.”

Alimentação é aliada da prevenção

Para o nutricionista Matheus Dayube, a alimentação equilibrada é o principal fator de prevenção e controle da doença.

“Os jovens consomem muitos ultraprocessados, cheios de açúcar, sal e gorduras ruins. Esses produtos provocam picos de glicose e insulina, favorecendo a resistência insulínica ao longo do tempo”, explica.

Arquivo pessoal/ Matheus Dayube

Arquivo pessoal/ Matheus Dayube


Ele ressalta que mudanças simples já fazem diferença: “Reduzir o consumo de doces, incluir frutas, legumes e grãos integrais, priorizar proteínas magras e moderar o uso de farinhas brancas são medidas eficazes para estabilizar a glicemia.”

O nutricionista também desfaz alguns mitos. “Dizer que quem tem diabetes nunca mais pode comer doce é um equívoco. O segredo está na frequência e na quantidade. O mesmo vale para as frutas: elas devem fazer parte da rotina, combinadas com fibras e proteínas.”

Exercício físico é parte do tratamento

A professora de Educação Física e personal trainer Daiane Araújo, 31 anos, reforça que o movimento é essencial tanto para prevenir quanto para controlar o diabetes tipo 2.

“O exercício melhora a sensibilidade à insulina, ajuda no controle da glicose e na redução da gordura corporal. Além disso, reduz o risco de complicações cardiovasculares e melhora o bem-estar", conta.

Reprodução/ Instagram @daianearaujopersonal

Reprodução/ Instagram @daianearaujopersonal


Segundo ela, o ideal é combinar atividades aeróbicas, como caminhada, corrida leve ou dança, com treinos de força, como a musculação. “A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada. O importante é que o jovem encontre algo prazeroso e que caiba na rotina.”

Prevenção é o melhor tratamento

Para a endocrinologista, o diagnóstico precoce e a mudança de estilo de vida ainda são as ferramentas mais poderosas contra o avanço da doença.

“É importante o rastreamento do diabetes precoce baseado em riscos clínicos (obesidade, história familiar, diabetes gestacional, hipertensão), intervenções intensivas de estilo de vida, tratamento farmacológico precoce e modelos de cuidado multidisciplinar, adaptados ao contexto brasileiro”, afirma.

A médica reforça que o diabetes não deve ser visto como uma sentença, mas como um convite ao autocuidado. “ O que não dá é para ignorar o corpo. Ele sempre dá sinais e quanto antes ouvirmos, melhor.”

Principais sintomas do diabetes

  • Sede e fome em excesso
  • Vontade frequente de urinar
  • Cansaço e fraqueza
  • Boca seca
  • Alterações na visão

O alerta é claro, cuidar da saúde é um gesto de prevenção. Com informação, acompanhamento médico e escolhas conscientes, é possível viver bem, e com mais equilíbrio em qualquer idade.