Mulheres negras lideram índices de obesidade e desnutrição no país
Estudo de universidades federais mostra que desigualdade racial e insegurança alimentar agravam extremos da má nutrição no Brasil
Por: Redação
30/10/2025 • 14:26 • Atualizado
A insegurança alimentar atinge milhões de brasileiros, mas seus efeitos não são iguais para todos. Um estudo publicado nesta quinta-feira (30), na revista Food Security, revela que mulheres negras estão entre as mais vulneráveis tanto à desnutrição quanto à obesidade.
Cientistas das Universidades Federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), conduziram a pesquisa. Os dados foram extraídos do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), módulo da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017–2018, do IBGE, que envolveu cerca de 46 mil brasileiros.
Desigualdade nos extremos da balança
Entre pessoas em situação de insegurança alimentar, as mulheres negras apresentaram 42% mais chance de obesidade em comparação a homens brancos com alimentação regular ,grupo de controle do estudo e 41% mais chance de baixo peso.
Mulheres brancas na mesma condição mostraram 40% mais risco de obesidade. Já entre pessoas negras, a obesidade foi mais frequente entre mulheres (15,9%) do que entre homens (10,8%).
“Em vez de estudar esses marcadores separadamente, buscamos entender as nuances que eles produzem quando atuam juntos”, explica Sávio Marcelino Gomes, pesquisador da UFPB e autor principal do artigo.
Insegurança alimentar
A insegurança alimentar ocorre quando uma pessoa não tem acesso regular a alimentos em quantidade e qualidade suficientes:
- Nível leve: preocupação ou incerteza sobre a disponibilidade de comida;
- Nível moderado: redução da qualidade ou da quantidade das refeições;
- Nível grave: falta de comida suficiente, o que pode causar fome e adoecimento;
- Entre as principais causas estão pobreza, desemprego, mudanças climáticas e desperdício de alimentos.
O estudo utiliza o conceito de interseccionalidade, que analisa como raça, gênero e condição socioeconômica se combinam para aprofundar desigualdades.
Para Gomes, é essencial que essas variáveis estejam no centro do debate sobre a chamada “sindemia global”, conceito que relaciona mudanças climáticas, obesidade e desnutrição.
“Os efeitos desse fenômeno não atingem todos da mesma forma. Qualquer medida deve levar em conta essas desigualdades”, afirma o pesquisador.
Os autores defendem políticas públicas que priorizem mulheres negras em situação de insegurança alimentar, com ações integradas de combate à fome e à obesidade.
O grupo também pretende ampliar as pesquisas interseccionais. Uma nova frente vai investigar a insegurança alimentar entre pessoas trans na Paraíba, e outra deve analisar como o ambiente alimentar urbano influencia essas desigualdades.
“Queremos que esses dados sirvam de base para gestores públicos. A ideia é que as informações circulem e ajudem a traçar caminhos mais justos e eficazes”, conclui Gomes.
