Bahia lidera exposição ocupacional ao sol e casos de câncer de pele dobram
Estado concentra maior proporção de trabalhadores ao ar livre e enfrenta avanço rápido da doença
Por: Redação
10/12/2025 • 09:18
Com a proximidade do verão, especialistas reforçam o alerta para os cuidados contra a radiação ultravioleta, sobretudo em um cenário de crescimento expressivo dos casos de câncer de pele na Bahia. Dados do Datasus mostram que as notificações de neoplasias malignas da pele no estado mais que dobraram entre 2020 e 2024, saltando de 1.520 para 3.101 registros. Em 2025, até setembro, já haviam sido confirmados 2.445 casos.
Essa alta ocorre em um estado cuja economia é fortemente impulsionada pelo turismo e onde uma parcela significativa dos trabalhadores exerce atividades diretamente sob o sol. Um estudo do Instituto Nacional do Câncer (INCA), revisado em 2025, aponta que 23,5% dos trabalhadores brasileiros atuam expostos à radiação solar. Na Bahia, a proporção chega a 34,2%, a maior do país, seguida por Acre (31,9%) e Sergipe (31,8%). O Distrito Federal aparece com o menor índice, 13,9%.
Entre os baianos mais vulneráveis estão pedreiros, ambulantes, jardineiros, agentes de trânsito, baianas de acarajé e barraqueiros de praia, grupos que ampliam sua atuação no verão. Para a dermatologista Clarissa Martinelli, professora da Afya Salvador, qualquer escurecimento da pele causado pelo sol já indica dano celular.
“A exposição solar tem efeito cumulativo. A vermelhidão imediata pode desaparecer, mas o dano permanece e se acumula ao longo dos anos”, explica a médica.
Dezembro Laranja reforça alerta
A campanha anual Dezembro Laranja busca ampliar a prevenção e o diagnóstico precoce. O câncer de pele não melanoma é o mais frequente no Brasil, representando cerca de 30% de todos os tumores diagnosticados. O INCA estima mais de 220 mil novos casos entre 2023 e 2025. Na Bahia, a projeção é superar 10,5 mil registros anuais.
A radiação solar oferece riscos mesmo em breves exposições, como caminhadas curtas. Para quem trabalha o dia inteiro ao ar livre, a necessidade de proteção é ainda maior. Além do filtro solar, que deve ter FPS mínimo 30 e ser reaplicado a cada três horas, Clarissa recomenda o uso de chapéus, óculos, roupas com proteção UV e luvas.
Segundo o estudo do INCA, a exposição prolongada no trabalho é mais comum em pessoas com menor escolaridade, residentes em áreas rurais, com jornadas superiores a 40 horas semanais e que atuam em atividades informais. Os homens representam a maioria desses trabalhadores, o que ajuda a explicar por que eles concentram a maior parte dos diagnósticos. Na Bahia, entre 2020 e setembro de 2025, foram 7.461 casos confirmados em homens e 7.063 em mulheres.
Tipos de câncer de pele
O câncer de pele se divide em dois grandes grupos: melanoma e não melanoma. Este último responde por 95% dos casos, incluindo o carcinoma basocelular, mais frequente e menos agressivo, o carcinoma espinocelular. Quando a lesão é totalmente removida, a chance de cura chega a 100%.
O melanoma exige maior atenção, pois pode se espalhar para outros órgãos.
“Ele costuma apresentar bordas irregulares e variação de tons. Em estágios avançados, pode necessitar de quimioterapia e acompanhamento oncológico”, esclarece Clarissa.
A idade e o histórico prévio da doença aumentam o risco. Quem já teve câncer de pele pode ter até 30% mais chance de desenvolver outro tumor. Para esses pacientes, a dermatologista Carolina Nery, da rede Clínica da Cidade, orienta vigilância constante.
“Feridas que não cicatrizam após um mês, sangramentos recorrentes, áreas com vasos aparentes e coceira persistente são sinais de alerta”, afirma.
Especialistas reforçam que, diante da alta incidência no estado e da grande quantidade de trabalhadores expostos, a prevenção deve ser incorporada à rotina, seja no lazer, seja no ambiente de trabalho.
