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China exige autorização do governo para reencarnações

Medida afeta líderes budistas e amplia controle de Pequim no Tibete

Por: Iago Bacelar

09/07/202511:00

Desde 2007, o governo da China impôs uma norma que exige autorização estatal para o reconhecimento de reencarnações religiosas, especialmente no Tibete. A medida, criada pela Administração Estatal para Assuntos Religiosos, determina que qualquer pessoa que deseje reencarnar, sobretudo líderes budistas, deve cumprir regras burocráticas estabelecidas pelo Partido Comunista Chinês.

China exige autorização do governo para reencarnações
Foto: Reprodução/IA

A regulamentação tem como principal alvo a sucessão espiritual do Dalai Lama, autoridade máxima do budismo tibetano. Para que uma nova encarnação seja reconhecida, é exigido que o indivíduo tenha nascido em território chinês e que o processo siga procedimentos oficiais, desconsiderando práticas religiosas tradicionais tibetanas.

Dalai Lama ameaça romper linhagem para evitar controle

O atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, nascido em 1935, já afirmou que poderá interromper a tradição de sucessão espiritual. O motivo é justamente a tentativa do governo chinês de controlar o processo de reconhecimento de sua reencarnação. A declaração ganhou repercussão em 2025, ano em que o monge completou 90 anos, reacendendo o debate sobre o futuro da liderança religiosa no Tibete.

“Acho que pode ser mais seguro se eu for o último Dalai Lama”, disse em ocasiões anteriores. A fala reflete a resistência à ideia de que Pequim tenha poder sobre a definição de um novo líder espiritual tibetano. A possibilidade de encerrar a linhagem é considerada uma resposta política e espiritual à tentativa de domínio chinês.

Medida é criticada por organizações internacionais

A exigência de permissão estatal para reencarnações é vista por diversas organizações internacionais como uma violação da liberdade religiosa. A Human Rights Watch classifica a política como parte de um conjunto de ações utilizadas pela China para restringir a autonomia religiosa no Tibete, que desde 1950 luta para preservar sua identidade diante da dominação chinesa.

Entre os impactos apontados está a descaracterização das tradições locais. A escolha de “Lamas Renascidos” segue, historicamente, rituais espirituais seculares que envolvem reconhecimentos místicos, consultas a oráculos e sinais considerados sagrados pela cultura tibetana. A imposição de regras estatais transforma esse processo em um mecanismo político-administrativo, segundo especialistas.

Tema viraliza nas redes sociais com críticas e memes

O assunto voltou a circular com força nas redes sociais nos últimos dias, sobretudo após a divulgação de análises sobre os possíveis desdobramentos da sucessão do Dalai Lama. A ironia “Preciso pedir permissão à China para reencarnar?” se tornou novamente viral, com memes, piadas e críticas à política imposta por Pequim.

A norma adotada em 2007 prevê que qualquer reconhecimento espiritual fora das regras definidas pelo Estado será considerado ilegal, o que implica punições tanto para os religiosos quanto para as instituições envolvidas. Essa medida tem sido aplicada com mais rigor nos últimos anos, em um cenário de recrudescimento do controle religioso por parte das autoridades chinesas.

Reencarnação como disputa geopolítica

Além da questão religiosa, analistas apontam que a sucessão do Dalai Lama se tornou um tema geopolítico. A China tem interesse em indicar uma figura espiritual que siga diretrizes estatais, garantindo influência sobre o Tibete e neutralizando vozes críticas ao regime.

A tensão entre o budismo tibetano e o governo chinês é parte de um cenário mais amplo de disputas ideológicas, territoriais e culturais. O Dalai Lama, exilado na Índia desde 1959, é considerado por Pequim uma figura separatista. A possibilidade de o governo chinês nomear um sucessor paralelo ao escolhido pelos tibetanos é vista como um fator de risco para o aumento da instabilidade na região.

Apesar das pressões, setores ligados ao budismo tibetano reforçam que a escolha de um novo Dalai Lama deverá seguir as tradições espirituais e não os interesses políticos da China. A expectativa é que o tema continue em evidência nos próximos anos, à medida que o atual líder espiritual avança em idade e mantém firme a intenção de proteger a autonomia religiosa do povo tibetano.