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Baiana é primeira monja afro indígena da linhagem Soto Zen

Cerimônia une culturas japonesa e baiana com sushi e acarajé

Por: Iago Bacelar

12/07/202510:29

A baiana Rosali Eliguara Ynaê, de 39 anos, se tornou a primeira monja zen budista afro indígena da linhagem japonesa Soto Zen, uma tradição com mais de 700 anos. A cerimônia de ordenação ocorreu no Templo Shinōzan Takuonji, em Yguazú, no Paraguai, e reuniu elementos da cultura japonesa e baiana, com sushi e acarajé lado a lado.

Baiana é primeira monja afro indígena da linhagem Soto Zen
Foto: Arquivo pessoal

Após a ordenação, Rosali passou a ser chamada de Rōzen. “Sai da realização individual para um compromisso coletivo. Sentia essa necessidade de algo a mais, de me colocar à disposição”, afirmou. A comunidade budista confirmou que esta é a primeira vez que uma mulher com origem afro indígena assume o papel de monja dentro da linhagem japonesa no continente.

Trajetória de Salvador ao Paraguai

Natural de Salvador, Rōzen cresceu nos bairros de Castelo Branco e Liberdade, em meio à diversidade cultural e religiosa. Seu pai tem ascendência indígena do povo Kariri Xocó, do norte da Bahia, em Paulo Afonso. A mãe é sertaneja, branca e católica. Ao longo da vida, a baiana também se aproximou das religiões de matriz africana.

“Axé e Zen são três letras de puro amor em ação no mundo”, declarou.

Foi durante a graduação em História na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), em 2006, que teve o primeiro contato com o budismo. Uma professora desenvolvia uma tese de doutorado sobre a doutrina filosófica e espiritual. A curiosidade virou estudo, e o estudo, prática — até que ela se aprofundou na tradição Soto Zen.

O budismo Soto Zen e a meditação

A vertente tem como base a meditação sentada, chamada zazen, que busca a purificação da mente e o alcance da iluminação espiritual por meio da disciplina.

Experiência no Paraguai e ordenação

Em 2024, Rōzen descobriu o templo budista Shinōzan Takuonji, fundado por imigrantes japoneses em Yguazú, cidade paraguaia conhecida por preservar costumes e símbolos da cultura oriental. Encantada com a comunidade e a atmosfera, decidiu ficar.

“Fiquei encantada com a relação com a comunidade, era um pedacinho do Japão no Brasil. Eu olhei e pensei: ‘acho que meu coração está em festa aqui’”, relembrou.

Ela iniciou um curso de três meses com práticas espirituais, convívio, aulas de japonês e guarani. Após esse período, foi aceita como aprendiz e posteriormente ordenada.

A cerimônia, realizada em maio, reuniu família e marcou a união entre culturas. “No dia da ordenação, meu filho fez acarajé e a comunidade japonesa levou sushi, cada um experimentou um pouco. Culturas diferentes podem caminhar juntas”, disse.

Representatividade e futuro

Rōzen entende que sua ordenação carrega o peso da representatividade. “Quero abrir caminho para outras pessoas que se parecem comigo”. Ela deseja que sua presença dentro do zen budismo sirva como ponte para que mais pessoas racializadas acessem a tradição.