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Por Dentro da Lei

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Isabela Conde e Renata Deiró defendem ações mais efetivas contra agressores, em entrevista ao Portal Esfera no Rádio

Convidadas destacam que cobertura insuficiente da imprensa favorece impunidade

Por: Lorena Bomfim

14/08/202513:40Atualizado

No mês de agosto, marcado por palestras e campanhas de conscientização, cresce o apelo para que a mídia amplie a cobertura dos casos de violência contra a mulher. Em entrevista ao programa Portal Esfera na Rádio, a ativista brasileira e fundadora da ONG Isabela Conde e a advogada especializada em direitos das mulheres Renata Deiró destacaram que, apesar de avanços, ainda há falhas no acompanhamento jornalístico desses casos.

Isabela Conde e Renata Deiró
Foto: Felipe Santana

“Eu percebo que a maior repercussão ocorre de fora, em nível nacional, e não localmente. A mídia ajuda, mas poderia dar atenção não apenas ao momento do crime, mas também ao acompanhamento dos casos”, afirmou Isabela, ressaltando que a continuidade da cobertura é fundamental para conscientizar a sociedade sobre a efetividade da lei e das denúncias.

Segundo ela, a falta de acompanhamento das notícias pode fortalecer a postura dos agressores. “Já ouvi de agressores: ‘Vocês se acham superpoderosas, mas eu respondo por lesão corporal leve e acabou’. Isso mostra que é preciso mais conscientização sobre a gravidade das consequências”, disse.

Durante a entrevista, Renata Deiró explicou que a Lei Maria da Penha tipifica cinco tipos de violência: física, psicológica, patrimonial, moral e sexual. No caso da violência física, o Código Penal classifica a agressão como lesão corporal leve, grave ou gravíssima, definindo a pena conforme a gravidade e os antecedentes do agressor. No entanto, crimes graves muitas vezes recebem penas reduzidas, especialmente quando não há morte da vítima.

Isabela citou seu próprio caso como exemplo. Vítima de tentativa de feminicídio, ela perdeu parcialmente a visão durante a agressão. Apesar da gravidade, o agressor respondeu apenas por tentativa de feminicídio e obteve redução de pena. “Ele alegou surto e ainda recebeu benefícios. Isso mostra que a conscientização da sociedade e a mobilização social são fundamentais para que a justiça seja efetiva”, afirmou.

A ativista também destacou que muitos homens agressores mantêm um sentimento de posse sobre as mulheres, o que perpetua a violência. “Existe um inconsciente coletivo de que a mulher é propriedade do homem. Isso impede que o agressor se sinta constrangido ou responsabilizado, mesmo diante da lei.”

Para ela, o problema não é a necessidade de penas mais brandas, e sim de medidas mais eficazes. “No meu caso, houve grande mobilização nacional, e mesmo assim o agressor teve progressão de pena para o regime semiaberto. A justiça ainda precisa avançar para garantir proteção real às vítimas.”

O debate no Portal Esfera na Rádio, programa veiculado na rádio Itapoan FM, reforçou que, além de denunciar, é essencial que a sociedade e a mídia acompanhem os desdobramentos dos casos, garantindo que a Lei Maria da Penha seja aplicada de forma plena e efetiva.