'Não é adultização, é exploração sexual de menores', diz Renata Deiró
Advogada critica uso do termo e contextualiza denúncia de Felca contra Hytalo Santos.
Por: Iago Bacelar
14/08/2025 • 13:14 • Atualizado
A advogada e especialista em direitos da mulher, Renata Deiró, afirmou que a exposição de crianças em conteúdos na internet é um crime de exploração sexual de menores, não se tratando apenas de "adultização". A declaração foi feita em entrevista ao programa Portal Esfera no Rádio, da Itapoan FM, onde ela discutiu a polêmica em torno das denúncias do youtuber Felca contra o influenciador Hytalo Santos. A especialista ressaltou que a denúncia de Felca é importante para dar visibilidade a um problema antigo e grave, mas que é fundamental dar o nome correto para o crime.
Renata Deiró, que já presidiu a Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher da OAB-BA e atualmente é vice-presidenta da CAAB, destaca que a prática é uma forma de alimentar uma rede de pedofilia, que lucra bilhões ao ano. A especialista ressalta que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código Penal já tipificam como crime colocar uma criança em redes sociais para satisfazer um desejo de se tornar famosa ou ganhar dinheiro, e isso não se resume a vestir uma roupa curta. A advogada enfatizou que explorar a imagem de uma criança para obter lucro deve ser punido.
O contexto da denúncia de Felca contra Hytalo Santos
A conta do influenciador digital Hytalo Santos no Instagram, que somava mais de 20 milhões de seguidores, foi desativada na última sexta-feira (8). A suspensão da conta ocorreu logo depois de o youtuber e humorista Felca publicar um vídeo em seu canal no YouTube, onde citou Hytalo Santos em uma denúncia de exploração de menores de idade. A polêmica ganhou destaque enquanto o influenciador já era alvo de investigações do Ministério Público da Paraíba (MPPB) desde 2024, por suspeita de exploração de menores em seus conteúdos.
O vídeo de Felca, que aborda o tema de "adultização", atingiu mais de 15 milhões de visualizações. Nele, o youtuber, com mais de 4 milhões de inscritos, apontou Hytalo Santos como um criador de conteúdo que utiliza menores de idade diante das câmeras de maneira inadequada. Felca citou o exemplo de Kamylla Santos, jovem de 17 anos, cuja imagem, segundo o youtuber, é explorada de forma sensual nos vídeos.
Investigação contra Hytalo Santos e a defesa
A investigação do Ministério Público da Paraíba teve início após suspeitas de exploração de menores em vídeos nos quais Hytalo Santos aparecia com crianças e adolescentes, muitos deles menores de idade. Nesses conteúdos, os jovens dançavam, falavam sobre relacionamentos e eram chamados de “filhos” pelo influenciador. As autoridades avaliam se o conteúdo veiculado nas redes possuía teor sexual, o que violaria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Na época em que a investigação foi aberta, Hytalo Santos se defendeu das acusações. Ele fez referência às "crias", como costuma chamar as crianças e adolescentes com quem convive. O influenciador destacou que as duas principais adolescentes citadas nas denúncias já são emancipadas e que as mães das menores têm bom relacionamento com ele, consentindo com a participação das filhas nos conteúdos.
A posição da especialista
Para a advogada Renata Deiró, é crucial que a sociedade entenda que a exposição de crianças em redes sociais não é uma forma de torná-las famosas ou de satisfazer um desejo de aparecer. Ela argumenta que a prática alimenta um sistema que viola os direitos fundamentais da criança e do adolescente. A advogada ressalta que, enquanto adultos têm condições de discernir e assumir as consequências de suas escolhas, crianças não têm essa capacidade. Por isso, a proteção da infância deve ser prioridade máxima.
A importância da denúncia
Renata Deiró conclui que a denúncia feita por Felca atua como um alerta para a sociedade, levantando um debate necessário em uma era em que a exposição pessoal é supervalorizada. A especialista ressalta que a relevância de Felca na internet é fundamental para que essa discussão chegue a um público maior, embora o tema já seja estudado por especialistas há anos. É um momento de reflexão para toda a sociedade sobre os limites da exposição na internet, principalmente quando se trata de menores de idade, e sobre a necessidade de punir de forma contundente os responsáveis por tais crimes.
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