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Fraude no INSS: PF prende "Careca do INSS" e empresário em operação

Investigações revelam rede de associações de fachada que desviou bilhões de aposentados e pensionistas

Por: Lorena Bomfim

12/09/202509:33

A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira (12) o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti, ambos suspeitos de participação em um esquema de fraudes e desvios de recursos do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Fraude no INSS: PF prende "Careca do INSS" e empresário em operação
Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo as investigações, conduzidas pela PF em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema teria causado um prejuízo de até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A fraude consistia no cadastramento irregular de aposentados e pensionistas em associações de fachada, com uso de assinaturas falsas, para descontar mensalidades diretamente dos benefícios pagos pelo INSS.

Como funcionava o esquema

De acordo com a PF e a CGU, as entidades envolvidas:

  • ofereciam propina a servidores do INSS em troca de acesso a dados de beneficiários;

  • utilizavam assinaturas falsificadas para autorizar descontos;

  • criavam associações de fachada, geralmente em nome de idosos, pessoas de baixa renda ou aposentados por incapacidade.

Muitos segurados sequer sabiam que estavam sendo associados. Há registros de aposentados filiados, no mesmo dia, a mais de uma entidade, com erros de grafia idênticos nas fichas — indício claro de fraude.

Em troca, servidores e dirigentes do INSS recebiam vantagens indevidas para permitir a inserção desses descontos nos contracheques.

Prisões e apreensões

Antunes foi preso em Brasília e levado à Superintendência da PF no Distrito Federal. Durante a operação, os agentes cumpriram mandados de busca em sua residência e identificaram transferências que somam R$ 9,3 milhões a pessoas ligadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024.

Já Camisotti foi preso em São Paulo, acusado de ser sócio oculto de uma das entidades envolvidas e beneficiário das fraudes. Na capital paulista, a PF também realizou buscas na casa e no escritório do advogado Nelson Wilians, onde foram encontradas diversas obras de arte.

Ao todo, foram expedidos dois mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão em São Paulo e no Distrito Federal, autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça.

A operação também resultou na apreensão de diversos carros de luxo, incluindo Ferrari, Land Rover, Porsche, Mercedes e até um carro de Fórmula 1.

Repercussão e defesas

Em abril deste ano, quando a fraude veio à tona, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido.

A defesa de Maurício Camisotti afirmou, em nota, que “não há qualquer motivo que justifique sua prisão” e classificou a ação da PF como arbitrária, alegando que o empresário teve o celular tomado enquanto falava com seu advogado, o que, segundo os defensores, fere garantias constitucionais.

Já a defesa de Nelson Wilians declarou que o advogado “tem colaborado integralmente com as autoridades” e reiterou que sua relação com um dos investigados é “estritamente profissional e legal”. A nota acrescenta que os valores transferidos pelo advogado referem-se à compra de um terreno vizinho à sua residência, em uma “transação lícita e de fácil comprovação”.

Wilians destacou ainda que a medida é “exclusivamente investigativa, não implicando juízo de culpa”, e afirmou confiar que a apuração demonstrará sua inocência.