Israel anuncia entrada gradual de mercadorias em Gaza por comerciantes locais
Estratégia pretende aumentar volume de ajuda e reduzir dependência da ONU
Por: Iago Bacelar
05/08/2025 • 12:00
O governo de Israel decidiu autorizar a entrada gradual e controlada de mercadorias em Gaza, utilizando comerciantes locais para coordenar a distribuição dos itens. A medida foi anunciada nesta terça-feira (5) pela agência militar Cogat, responsável pela ajuda humanitária na região.
Medida busca ampliar centro logístico da ajuda interna
A iniciativa pretende aumentar o volume de ajuda que entra na Faixa de Gaza, diminuindo a dependência exclusiva das entregas feitas pela ONU e outras organizações internacionais. Em comunicado, a agência brasileira explicou que a participação de comerciantes locais deve fortalecer a logística da distribuição sem comprometer o controle de segurança.
Necessidade de até 600 caminhões diários
Autoridades da Autoridade Palestina e da ONU alertam que Gaza necessita da entrada de cerca de 600 caminhões de ajuda por dia para atender à população local. Esse volume era operado antes do início do conflito, mas, desde então, os deslocamentos por terra têm enfrentado restrições, o que agrava a crise humanitária no território controlado pelo Hamas.
Hamas se dispõe a coordenar entrega a reféns com a Cruz Vermelha
Na última domingo (3), o grupo Hamas declarou estar disposto a coordenar com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha a entrega de ajuda a reféns detidos em Gaza, caso Israel atenda a determinadas condições. A declaração surgiu após a divulgação de um vídeo que mostrava um refém israelense visivelmente desnutrido, gerando amplo repúdio internacional.
Segundo dados israelenses, 50 reféns seguem em Gaza, dos quais apenas 20 são considerados vivos. O Hamas ainda impede o acesso de organizações humanitárias aos reféns, deixando seus familiares sem informações sobre suas condições de saúde.
Negociações por cessar-fogo em impasse
Tentativas indiretas de cessar-fogo por 60 dias e de soltar metade dos reféns fracassaram na semana passada. O enviado dos Estados Unidos ao Oriente Médio, Steve Witkoff, afirmou às famílias das vítimas que trabalha em um plano para “efetivamente encerrar a guerra em Gaza”, em parceria com o governo israelense. Entretanto, as conversações não avançaram até o momento.
Witkoff ainda declarou que o Hamas estaria disposto a se desarmar, mas o grupo reafirmou que só abriria mão da luta armada se fosse criado um estado palestino soberano com Jerusalém como capital.
Crise humanitária se agrava com fome e falta de acesso
A situação em Gaza permanece tensa com fome, falta de água e escassez de suprimentos básicos. Segundo autoridades israelenses, pelo menos mais seis pessoas morreram de fome neste domingo. Agências da ONU criticam os lançamentos aéreos de alimentos, afirmando que são insuficientes, e exigem que Israel aumente e facilite rapidamente a entrada de ajuda terrestre.
Israel responsabiliza o Hamas pelo sofrimento civil, mas também afirma que tomou medidas para facilitar o tráfego de ajuda, incluindo interrupções temporárias nos combates em áreas selecionadas, estabelecimentos de rotas protegidas para comboios e entregas aéreas direcionadas.
Histórico do conflito e impacto civil
A atual guerra começou após um ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou em mais de 1.200 mortes e cerca de 251 reféns, segundo autoridades israelenses. Desde então, operações militares israelenses causaram mais de 60 mil mortes na Faixa de Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde palestino.
A decisão de permitir que comerciantes locais participem da distribuição de ajuda humanitária marca uma mudança operacional da Cogat, que busca envolver atores locais para ampliar o suporte à população atingida pelo conflito, ao mesmo tempo em que tenta reduzir o impacto sobre as estruturas internacionais já sobrecarregadas.
Relacionadas