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Governo aciona plano para amparar exportadores após tarifa de Trump entrar em vigor

Exportações brasileiras perdem força com sobretaxa e governo estuda ações diretas

Por: Iago Bacelar

06/08/202511:25

A sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros entrou em vigor nesta quarta-feira (6), impactando 35,9% das exportações nacionais, sobretudo nos segmentos de alimentos como carne, café e frutas. A medida foi implementada sem negociação direta entre os governos de Brasil e Estados Unidos, o que levou o Executivo brasileiro a organizar um plano emergencial de contenção.

Governo aciona plano para amparar exportadores após tarifa de Trump entrar em vigor
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo

Compra de produtos e crédito emergencial estão entre as ações

Sem um canal diplomático aberto com Washington, o governo federal decidiu atuar em diferentes frentes. A principal medida imediata é a compra de produtos agrícolas perecíveis que deixarem de ser embarcados para os EUA. A ideia é adquirir itens como frutas, pescados e mel por meio de compras públicas. O Executivo solicitou ao setor produtivo a entrega de uma lista com produtos excedentes e seus preços mínimos, segundo informou o jornal O Globo.

Além das compras emergenciais, o BNDES prepara uma linha de crédito com juros subsidiados pelo Tesouro Nacional, destinada a pecuaristas e agroindústrias. Os recursos devem ser utilizados para capital de giro e para apoiar a abertura de novos mercados internacionais. O valor das garantias públicas estimadas varia entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, com previsão de liberar até R$ 20 bilhões em empréstimos.

Nova política para sucos e derivados deve beneficiar produtores locais

Outra medida em avaliação é a alteração de normas regulatórias sobre o uso de ingredientes naturais em sucos, iogurtes e sorvetes industrializados. O Ministério da Agricultura discute a mudança como forma de estimular o mercado interno e beneficiar pequenos produtores regionais, criando alternativas à perda de mercados externos.

A equipe econômica também considera implementar um programa de redução temporária de jornada e salários, com compensação parcial financiada pelo Estado. A proposta visa preservar empregos em setores atingidos, especialmente nas cadeias de perecíveis.

Governo estuda ações setoriais e cronograma por etapas

Na noite de terça-feira (5), o presidente Lula se reuniu com ministros e o vice-governador para definir os primeiros passos do plano. O cronograma de ações será anunciado por etapas, priorizando os setores mais afetados. As primeiras medidas devem ser direcionadas ao setor de frutas e pescados.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, reforçou que cada setor terá ações específicas, conforme o grau de impacto das exportações. Produtos que já foram embarcados antes da vigência da tarifa ainda poderão entrar nos EUA até 5 de outubro sem a nova taxação.

Haddad critica sobretaxa e Lula adota tom diplomático

Durante participação no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o presidente Lula disse que pretende convidar Donald Trump para a COP30, mas que não pretende abrir negociação direta sobre a tarifa no momento. A intenção do governo é evitar o desgaste político e trabalhar uma solução técnica para a crise.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a imposição norte-americana. “A sobretaxa é injusta e rompe com uma tradição de mais de 200 anos de boas relações entre os dois países”, afirmou. Mesmo assim, ele sinalizou que o governo considera esse episódio como o início de uma negociação futura com o secretário do Tesouro dos EUA, com foco em separar questões comerciais das disputas políticas levantadas por Trump.

Risco de desarticulação global preocupa setores produtivos

Apesar da postura diplomática adotada pelo governo, representantes do agronegócio e da indústria manifestaram preocupação com os impactos imediatos da nova tarifa e aguardam a efetivação das medidas anunciadas. A expectativa é de que as ações emergenciais reduzam as perdas no curto prazo e evitem prejuízos estruturais para as exportações brasileiras.

O ministro Haddad ainda citou a importância de discutir cooperação internacional na exploração de minerais estratégicos, como bauxita, manganês, nióbio e grafita, apontando que os recursos naturais do Brasil devem gerar benefícios diretos para a população.