Brasil adota quatro frentes para enfrentar tarifaço de Trump e minimizar impactos
Medidas envolvem curto, médio e longo prazos diante da crise comercial
Por: Iago Bacelar
08/08/2025 • 16:00
O governo brasileiro estruturou uma reação em quatro frentes simultâneas ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. As medidas foram formuladas após a decisão da gestão de Donald Trump, que impôs sobretaxas de até 40% sobre exportações nacionais. As ações envolvem curto, médio e longo prazos, com foco em negociação, mitigação de impactos internos, diversificação de mercados e possível retaliação comercial.
Frente de negociação tenta suavizar impactos
A principal frente definida pelo Planalto é a da negociação diplomática direta com o governo norte-americano. Desde abril, quando foi anunciada a tarifa adicional de 10%, o Brasil tenta abrir canais com autoridades em Washington, mesmo diante de resistências da gestão Trump.
O Itamaraty, os ministérios da Fazenda, Indústria e Comércio, Agricultura e o setor empresarial estão envolvidos nas tratativas, coordenadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. O ministro Fernando Haddad já anunciou reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na próxima semana, como tentativa de ampliar o diálogo.
No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve buscar contato direto com Trump neste momento. A avaliação interna é de que a decisão norte-americana tem motivação política, com interesse em beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e pressionar decisões do Supremo Tribunal Federal sobre as big techs.
Governo avalia medidas para mitigar perdas no mercado interno
A segunda frente foca na mitigação dos impactos econômicos causados pela nova política tarifária. Desde a assinatura da ordem executiva que formalizou o novo regime, o governo mapeia os setores mais afetados pelas tarifas.
As soluções estudadas envolvem incentivos à exportação para novos mercados, apoio financeiro emergencial, redução de tributos internos e até a criação de estoques reguladores temporários. O presidente Lula já recebeu uma lista com medidas prioritárias, mas parte do empresariado tem cobrado maior agilidade na execução.
O governo também vê a crise como chance de reavaliar a estrutura do comércio exterior. Entre as propostas está a criação de linhas de financiamento para exportações brasileiras, iniciativa que enfrenta resistência no Congresso Nacional.
Estratégia de diversificação mira novos parceiros comerciais
A terceira frente da resposta brasileira prioriza a diversificação de mercados e acordos comerciais. A intenção é reduzir a dependência de mercados concentrados, com reforço à inserção do Brasil em novos blocos.
O governo inclui nessa estratégia o acordo Mercosul-União Europeia, além de visitas a países como Japão, China, Vietnã e membros dos Brics. Uma das prioridades recentes foi o diálogo entre Lula e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que tratou de ampliar o comércio bilateral.
Outras agendas incluem visitas à Indonésia e participação em cúpula da ASEAN, na Malásia. Apesar do avanço, o governo reconhece que essa diversificação leva tempo, e por isso a substituição dos EUA como principal mercado de destino não é imediata.
Retaliação técnica é considerada como último recurso
A última frente é a possível retaliação comercial, ainda em estágio preliminar. A equipe econômica iniciou estudos técnicos e jurídicos para avaliar medidas de reciprocidade, caso o impasse diplomático se prolongue ou haja novas sanções contra o Brasil.
As ações estão amparadas pela lei de reciprocidade comercial, aprovada pelo Congresso. Uma fonte do governo afirmou que o foco é garantir legalidade e proporcionalidade.
"Não se trata de revanche. É reciprocidade. Estamos analisando cuidadosamente em quais setores e produtos poderíamos responder com proporcionalidade", explicou a fonte. A equipe jurídica avalia os limites estabelecidos por tratados internacionais antes de formalizar qualquer retaliação.
A articulação entre as quatro frentes visa conter os efeitos econômicos e proteger a indústria nacional sem comprometer a estabilidade nas relações bilaterais com os Estados Unidos.
Relacionadas