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Arte e dedicação transformam fisiculturismo em celebração nacional

Esporte potencializou personalidades como Ramon Dino, Francielle Mattos e Rodrigo Pantera

Por: Victor Hugo

01/11/202506:00

Foco, peso, músculos e muita dedicação fazem parte da vida do fisiculturismo. O conjunto da obra tornou 30 de outubro, o Dia do Fisiculturista, uma data dedicada a homenagear os atletas que transformam a dedicação à musculação em uma verdadeira arte de escultura corporal. 

Dia do Fisiculturismo
Foto: Giba Junior/Muscle Contest International

A dimensão da prática esportiva tem, em resumo, a comprovação da Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness (CBMFF - IFBB Brasil). De acordo com a entidade, apenas em 2024, o bodybuilding se tornou um dos esportes em maior crescente entre adultos e adolescentes brasileiros. É o que sinaliza Marcos Santos, presidente e representante do fisiculturismo da IFBB Bahia em entrevista ao Portal Esfera.

 

“De fato, o número é maior de jovens e adultos, mas para a gente é mega importante ter a aceitação das pessoas independente da sua ideia, mostra que o preconceito de anos atrás tem sido quebrado e qualquer pessoa hoje pode fazer parte da musculação e do fisiculturismo”, afirma.

Tal apontamento pode ser atestado pelos dados do Panorama Setorial Fitness Brasil 2024, elaborado pela plataforma Fitness Brasil em parceria com a EY e a Armatore Marketing + Science. Segundo o levantamento, em uma década, de 2014 ao ano passado, o número de academias de ginástica quase triplicou no país. O salto foi de 19,3 mil para 56,8 mil.

Longe de ser apenas uma busca por músculos volumosos, o fisiculturismo é um esporte de rigor extremo que exige disciplina, nutrição impecável e foco mental inabalável. A celebração visa também ressaltar a crescente profissionalização e popularidade da modalidade no cenário esportivo nacional, o que inspira milhares de entusiastas da vida fitness. 

Eventos como o Mr. Olympia Brasil Expo, que atrai atletas de elite e um público massivo, alavancaram o esporte, assim como a presença assídua de artistas como Ramon Dino, Francielle Mattos e, atualmente, o baiano Rodrigo Pantera, responsáveis por carregar o legado  do Brasil aos palcos mais prestigiados do mundo. 

Pauta Fisiculturismo

Pauta Fisiculturismo


Foto: Reprodução/Arquivo pessoal Tiago Gonçalves//Reprodução/Instagram @rodriigopantera

 

Desafios no crescimento

Para a CBMFF, filiada à International Federation of Bodybuilding and Fitness (IFBB), o avanço na modalidade no Brasil e na Bahia até deixa os paradigmas de preconceito de lado devido ao poder das redes sociais, mas, ainda assim, a falta de investimentos na Bahia é um grande obstáculo.

 

“É nítido ver que o preconceito com o esporte diminuiu bastante, sem dúvidas as redes sociais ajudaram muito para levar boas informações sobre o esporte para ‘os leigos”. Hoje é bem comum encontrar alguém na família que seja praticamente ou tenha uma boa afinidade com nosso esporte. Um dos pontos que nos deixa em alerta aqui na Bahia é a falta de um olhar de apoio de empresários e do poder público”, destaca o gestor.

 

Além dos músculos vantajosos, outra discriminação é o estilo de vida dos atletas durante todo o período de Bulking (ganho de massa) ou Cutting (perda de gordura corporal), que pode gerar uma visão errada das pessoas que não estão familiarizadas com o tipo de alimentação ou treino: “Normalmente as pessoas acham estranho o fato de não consumir bebida alcoólica, não participar de algumas festas, ter que levar as refeições para almoço e eventos familiares.”

Para Tiago Gonçalves, coach, atleta e fundador da TG TEAM - consultoria focada em performance, estética e longevidade, o maior desafio envolve o equilíbrio entre intensidade e longevidade.  

“O corpo de um atleta vive no limite, mas não pode ser descartável. O segredo é dosar a entrega, treinar forte, mas com técnica, forçar progresso, mas respeitar as articulações, crescer, mas com controle. O atleta maduro não busca mais ser o maior, busca ser o mais consistente. Longevidade é o novo pico de performance. E isso só se conquista com controle, consciência e amor pelo processo”, avalia ele. 

 

Estilos diversificados 

As principais competições de fisiculturismo geralmente segmentam os atletas de acordo com a idade e o nível de desenvolvimento físico, com disputas equilibradas e critérios de julgamento específicos. 

As categorias mais comuns incluem: fisiculturismo júnior (menos de 23 anos/início de carreira); fisiculturismo sênior (23 anos ou mais/trajetória consolidada no esporte); fisiculturismo máster  (níveis de desenvolvimento muscular bastante elevados; e, por fim, o fisiculturismo clássico (estrutura física mais "leve" e "natural", direcionada a competidores que optam por não desenvolver a musculatura ao "extremo").

Arquivo Pessoal/Tiago Gonçalves

Arquivo Pessoal/Tiago Gonçalves


Reprodução/Arquivo pessoal

Nessa perspectiva, um dos principais métodos para manter o treino durante esse período de competição é de fato a valorização e o estímulo dos músculos.

“O método muda conforme o objetivo metabólico e o momento da periodização. Já em questão de volume, priorizo o estímulo mecânico e a progressão controlada de carga, sempre com foco em execução, amplitude e consistência. É exatamente, momento de gerar estresse muscular positivo mais volume, mais carga e mais densidade”, explica o atleta.

Viver na prática do fisiculturismo também é lidar com as abordagens no período de off-season (volume) e o cutting (definição). “Para mim é crucial, no off-season, o corpo estar em fase de construção, pois é o período de maior aporte calórico, onde o objetivo é gerar adaptação e crescimento real”, considera. 

“Meus treinos nesta fase são mais intensos, com foco em carga progressiva, densidade e técnicas que realmente estimulam a hipertrofia. Devido ao volume alimentar elevado, há tendência natural à resistência insulínica, então o cardio se torna obrigatório não apenas para controle de gordura, mas também para preservar saúde cardiovascular e equilíbrio metabólico”, finaliza. 

Mesmo assim, a etapa do bulking exige muita atenção. “É a fase de construir, mas com responsabilidade”.

Vale lembrar que em todo bulking para competição existe um cutting que traz um choque corporal, ou seja, menos energia disponível, mais estresse, maior risco de perda muscular.

O coach entende ainda que “o corpo entra em outro ambiente fisiológico”. Para ele, a manutenção da intensidade está conectada com a redução do volume de treino para preservação de densidade e força.

O descanso é ainda mais importante, e os cardios passam a ser estratégicos podendo chegar a três sessões diárias em pré-competição (aeróbico em jejum, pós-treino e noturno), conforme a resposta do corpo.

Dicas

Em síntese, o fisiculturismo de elite exige uma disciplina rigorosa baseada em três pilares fundamentais: 

 

1) Nutrição estratégica:

Bulking (Volume): Consumo calórico controlado, focado em alta proteína (para construção muscular) e carboidratos complexos (para energia);
Cutting (Definição): Redução calórica para queimar gordura, mantendo a proteína alta para preservar a massa magra.


Como sugestão, o atleta Tiago entende que o processo de começo de carreira requer validação das mudanças e adaptações das dietas durante o período antes das competições: “Algo que percebi é que a dieta não é sobre rigidez, é sobre inteligência metabólica."

Segundo ele, a metodologia no fisiculturismo de longo prazo é marcada por uma abordagem estratégica e consciente, integrando de forma crucial a nutrição e o suporte funcional. Neste caso, na fase de volume, a maior mudança e foco reside em equilibrar o superávit calórico com a eficiência digestiva, garantindo que o alto consumo alimentar se traduza em máxima absorção de nutrientes. Para isso, o superávit é calculado, priorizando-se a qualidade alimentar, a digestibilidade e o controle inflamatório. 

"Para otimizar a saúde metabólica e a performance, utilizamos manipulados funcionais como berberina e ácido alfa-lipóico (sensibilidade à insulina), colina, NAC e ômega-3 (estresse oxidativo e metabolismo hepático/lipídico) e probióticos (saúde digestiva), ajustados individualmente com base em exames. Na fase de cutting, a estratégia se aprofunda com antioxidantes, adaptógenos e suporte hormonal natural para manter o rendimento sob restrição calórica. Essa integração visa a evolução sem colapsar o corpo, resumida na filosofia: 'Crescer com saúde e secar com consciência'", detalha.



2) Treinamento intenso:

Busca contínua pela progressão de carga e intensidade;
Foco total na conexão mente-músculo para otimizar o recrutamento de fibras.

3) Recuperação crucial:

Prioridade máxima ao sono (7-9 horas) e à hidratação, momentos essenciais para a regeneração e o crescimento muscular.