Tarifa dos EUA derruba exportações de mel brasileiro
Grupo do Piauí teve 585 toneladas canceladas por comprador
Por: Victor Hugo Ribeiro
17/07/2025 • 15:00
O mercado brasileiro de mel foi duramente atingido após o anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de implementar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto. Essa medida já resultou no cancelamento imediato de 585 toneladas de mel orgânico por uma das maiores processadoras e exportadoras globais.
O Grupo Sama, sediado no Piauí, estima que a nova tarifa adicionará cerca de US$ 6 milhões ao custo da carga, tornando o preço final do produto inviável nos EUA. Fundado há 28 anos, o Grupo Sama adquire a produção de mais de 12 mil pequenos produtores de mel do Nordeste, principalmente do Piauí, Ceará, Maranhão e Bahia. O mel é beneficiado em indústrias no Piauí e em São Paulo, e então exportado já embalado para consumo nos EUA.
Uma parte significativa das 585 toneladas canceladas já estava nos portos de Pecém e Mucuripe, no Ceará, aguardando embarque. Outra parte estava em processo de beneficiamento, e o restante ainda estava a caminho dos fornecedores. O cancelamento gera custos adicionais de armazenamento, pois o produto exige refrigeração e temperatura controlada.
A Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) também relatou o cancelamento de uma compra de 95 toneladas de mel orgânico por outro cliente dos EUA. Samuel Araujo, CEO do Grupo Sama, descreve o impacto como "enorme", afetando toda a cadeia produtiva. Ele afirma que a tarifa dobrará o custo do mel, inviabilizando qualquer negociação. Araujo compara a situação à pandemia de Covid-19, ressaltando que ocorre em um período já difícil para a produção de mel devido às condições climáticas adversas.
Embora o Grupo Sama não tenha cancelado as compras já realizadas com seus fornecedores, a cadeia produtiva deverá ser paralisada. Araujo informou que os navios que chegariam aos EUA antes de 1º de agosto, data de início da tarifa, estão lotados, sem margem para manobras.
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Os Estados Unidos absorvem 80% do mel produzido no Brasil. Em 2024, o Piauí, apesar de não ser o maior produtor, liderou as exportações de mel para os EUA, com cerca de 85% de sua produção de mel destinada a esse mercado, segundo Islano Marques, gestor corporativo da Área Internacional e Mercado da Federação das Indústrias do Piauí (Fiepi).
Diante do cenário, produtores buscam alternativas. Samuel Araujo vê a Europa como um mercado potencial, mas teme que as negociações com outros países também sejam impactadas pela tarifa dos EUA. Ele acredita que o mercado se tornará oportunista, buscando descontos aproveitando a desvantagem brasileira.
Islano Marques ressalta que o principal desafio na busca por outros mercados é o grande volume de mel que era importado pelos Estados Unidos, e que não há outro mercado alternativo que consuma essa mesma quantidade. Isso exigiria um esforço significativo para diversificar e pulverizar a oferta.