Produção industrial volta a crescer após dois meses de retração
Setor cresceu 0,1% em junho, segundo dados do IBGE
Por: Iago Bacelar
01/08/2025 • 18:21 • Atualizado
A produção industrial brasileira teve um leve crescimento de 0,1% em junho de 2025 na comparação com o mês anterior, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta sexta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado marca o fim de uma sequência de dois meses seguidos de retração, ambos com queda de 0,6%.
No acumulado de 2025, a indústria brasileira registra avanço de 1,2%, enquanto no recorte dos últimos 12 meses, a expansão é de 2,4%. Já na comparação com junho de 2024, houve queda de 1,3%.
Atualmente, a produção se encontra 2% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, mas ainda está 15,1% abaixo do pico histórico, atingido em maio de 2011. A média móvel trimestral, que capta a tendência do setor, registrou recuo de 0,4% no trimestre encerrado em junho frente ao encerrado em maio deste ano.
Juros altos freiam o ritmo da indústria
O gerente da pesquisa, André Macedo, avalia que, apesar do resultado positivo, o ritmo de recuperação da indústria segue enfraquecido.
"No primeiro trimestre de 2025, a produção subiu apenas 0,6% em relação ao final de 2024", afirmou Macedo, que atribui a lentidão ao atual cenário de juros altos impostos pelo Banco Central (BC) para conter a inflação.
Ele complementa que há uma relação direta com a política monetária mais restritiva, e ressalta que a produção apresenta menor intensidade nos meses recentes, sinal de que o setor segue pressionado.
Desde setembro de 2024, a taxa Selic, definida pelo BC, está em trajetória de alta e chegou a 15% ao ano. A medida visa controlar a inflação, que em junho alcançou 5,35% em 12 meses, acima do teto da meta de 4,5% estabelecida pelo governo.
Cenário internacional e tarifaço pesam contra setor
Outro fator que pressiona o desempenho industrial é a incerteza no cenário internacional. O IBGE aponta que medidas protecionistas adotadas por grandes economias, como os Estados Unidos, afetam diretamente o planejamento das empresas brasileiras.
"Fato é que atrapalha o planejamento das empresas do setor industrial", destacou André Macedo, ao comentar os impactos do tarifaço imposto pelo governo norte-americano.
Desde o início de 2025, o presidente Donald Trump tem anunciado novas taxações sobre produtos importados. O Brasil foi incluído nessa lista e, além da taxa adicional de 10% iniciada no primeiro semestre, haverá um novo aumento para 40% a partir de agosto, incidindo sobre grande parte dos produtos nacionais exportados para o mercado americano.
Difusão do crescimento é a maior em um ano
Das 25 atividades industriais pesquisadas pelo IBGE, 17 registraram crescimento em junho frente a maio. Essa difusão de alta é a mais ampla desde junho de 2024, quando 22 atividades também tiveram avanço.
Segundo André Macedo, isso se deve à recuperação de perdas anteriores.
"Esse maior espalhamento está muito direcionado a perdas de meses anteriores", explicou. No entanto, ele pondera que ainda não se pode falar em trajetória clara de crescimento para o setor.
Setores que puxaram o crescimento em junho
Entre os destaques positivos, a maior contribuição veio do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, com alta de 2,4%. Outros segmentos com resultados relevantes foram:
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Produtos de papel e celulose (1,6%)
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Metalurgia (1,4%)
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Produtos de borracha e material plástico (1,4%)
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Outros equipamentos de transporte (3,2%)
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Produtos químicos (0,6%)
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Produtos farmoquímicos e farmacêuticos (1,7%)
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Impressão e reprodução de gravações (6,6%)
Quedas concentradas em atividades estratégicas
Apesar dos avanços, três atividades estratégicas tiveram desempenho negativo e impactaram o resultado geral. São elas:
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Indústrias extrativas (-1,9%)
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Produtos alimentícios (-1,9%)
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Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (-2,3%)
Esses três segmentos representam cerca de 45% do total da indústria nacional. A queda nos produtos alimentícios é a quarta consecutiva nessa base de comparação.
Categorias econômicas têm desempenho desigual
Entre as grandes categorias econômicas, bens de capital (1,2%) e bens de consumo duráveis (0,2%) tiveram desempenho positivo na comparação mensal. Já os bens de consumo semi e não duráveis registraram retração de 1,2%, e os bens intermediários — insumos utilizados na produção de outros bens — caíram 0,1%.