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Rússia anuncia vacina contra o câncer; especialistas pedem cautela

Imunizante seria voltado ao câncer colorretal, mas falta de dados publicados em revistas especializadas gera polêmica

Por: Lorena Bomfim

16/09/202510:05Atualizado

A Rússia anunciou recentemente ter desenvolvido uma vacina contra o câncer “pronta para uso”, que será distribuída gratuitamente à população assim que receber aprovação oficial. O imunizante foi projetado para prevenir o câncer colorretal, terceiro tipo mais letal no Brasil e o segundo no mundo.

Anúncio de vacina russa contra o câncer divide opinião científica
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/Arquivo

Segundo Veronika Skvortsova, chefe da Agência Federal de Medicina e Biologia (FMBA) da Rússia, o desenvolvimento da vacina levou muitos anos, sendo os últimos três dedicados a estudos pré-clínicos obrigatórios. Ainda de acordo com autoridades russas, já estão em andamento pesquisas para versões do imunizante contra o glioblastoma, um câncer cerebral agressivo, e contra o melanoma, considerado o tipo mais letal de câncer de pele.

Apesar do tom de otimismo do governo russo, a comunidade científica internacional recebeu a notícia com cautela. A principal crítica é a falta de transparência no processo de divulgação dos resultados. Até o momento, não há publicações em revistas científicas nem revisão por pares — prática considerada fundamental para atestar a confiabilidade das pesquisas.

“Todos os dados deveriam ser compartilhados em revistas científicas, revisados por pares. É isso que atesta a qualidade dos estudos e embasa a análise das agências regulatórias. O problema é a ausência de transparência: não sabemos como foram conduzidos os estudos pré-clínicos, quais moléculas foram utilizadas ou como se darão os testes clínicos. Países sérios registram todos os ensaios na plataforma clinicaltrials, por exemplo”, explicou Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em entrevista a O Globo.

Enquanto o governo russo aposta no impacto histórico da vacina, especialistas defendem que apenas a publicação de dados científicos detalhados poderá confirmar a eficácia e a segurança do imunizante.