Salvador pode abrigar maior cemitério de escravizados da América Latina
Descoberta foi feita pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, durante seu doutorado na UFBA
Por: Redação
26/10/2025 • 12:10 • Atualizado
Um cemitério com os restos mortais de mais de 100 mil pessoas escravizadas foi identificado sob o estacionamento da Pupileira, na sede da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, em Salvador. A descoberta foi confirmada por pesquisas arqueológicas apresentadas ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) em uma reunião realizada em 21 de outubro.
Segundo os pesquisadores, o local pode ser o maior cemitério de escravizados da América Latina. O encontro que revelou os resultados contou com a presença de representantes do MP-BA, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Fundação Gregório de Matos (FGM) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).
A descoberta aconteceu por parte da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, durante seu doutorado na Universidade Federal da Bahia (Ufba). A pesquisadora comparou mapas dos séculos 18 e 19 com imagens de satélite atuais, identificando o terreno histórico sob o estacionamento localizado no centro da capital baiana.
As escavações começaram em 14 de maio de 2025. Já no terceiro dia de trabalho, a equipe encontrou fragmentos de porcelanas e objetos do século 19. Dez dias depois, surgiram as primeiras ossadas humanas, confirmando o caráter funerário do sítio.
Mesmo após a confirmação dos achados, o espaço segue sendo utilizado como estacionamento, o que preocupa as autoridades. O Iphan recomendou à Santa Casa de Misericórdia que suspenda o uso da área até a conclusão das análises e definição de medidas de preservação.
A pesquisadora Silvana Olivieri também solicitou que o local seja oficialmente reconhecido como “Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos”, pedido já encaminhado ao Iphan.
Resgate histórico
De acordo com registros estudados por Olivieri, o cemitério foi inicialmente administrado pela Câmara Municipal e, posteriormente, pela Santa Casa de Misericórdia, funcionando por cerca de 150 anos, até 1844, quando a instituição passou a operar o Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação.
Os documentos históricos apontam que a maioria dos sepultados eram pessoas escravizadas, mas também há registros de indígenas, ciganos e pessoas pobres que não tinham recursos para custear o enterro. Pesquisadores acreditam que integrantes das Revoltas dos Malês, dos Búzios e da Revolução Pernambucana também podem estar enterrados no local.
Os sepultamentos, segundo a pesquisa, eram feitos em valas comuns e de forma superficial, sem qualquer cerimônia religiosa, um retrato do apagamento histórico e da violência da escravidão no Brasil colonial.
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