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Embriões são criados em laboratório sem óvulos nem espermatozoides em Israel

Células-tronco foram reprogramadas para formar órgãos em útero artificial

Por: Iago Bacelar

14/07/202511:00

Pesquisadores do Instituto Weizmann, em Israel, conseguiram pela primeira vez desenvolver embriões completos sem o uso de espermatozoides nem óvulos. A técnica, que emprega apenas células-tronco de camundongos, permitiu que elas se organizassem de forma espontânea, dando origem a estruturas que simulam embriões em estágios iniciais do desenvolvimento.

Embriões são criados em laboratório sem óvulos nem espermatozoides em Israel
Foto: Eugene Ermolovich/CRMI

As estruturas formadas apresentaram órgãos como intestino, coração funcional e cérebro primitivo. O estudo foi publicado na revista científica Cell e conduzido pelo professor Jacob Hanna, que já havia utilizado um útero mecânico para cultivar embriões naturais em pesquisas anteriores.

Estrutura sintética imita embrião real

A pesquisa demonstrou que é possível programar células-tronco embrionárias para que se organizem em estruturas com características de embriões verdadeiros. As células foram cultivadas por mais de uma semana em ambiente artificial, utilizando o mesmo útero mecânico da experiência anterior com embriões naturais.

Segundo Hanna, o experimento revelou que as células-tronco têm a capacidade de formar embriões sintéticos inteiros, o que representa uma mudança de paradigma na compreensão sobre desenvolvimento embrionário. O professor explicou que, embora as estruturas apresentem 95% de semelhança com embriões naturais de camundongos, não se trata de embriões reais e eles não têm potencial para gerar vida.

Resultados e limitações

A maior parte das células-tronco utilizadas não conseguiu formar estruturas funcionais. Apenas 0,5% das tentativas resultaram em embriões sintéticos viáveis, com órgãos e tecidos visivelmente formados. Ainda assim, o resultado é considerado relevante para o avanço das pesquisas em biologia do desenvolvimento e engenharia de tecidos.

Além de oferecer uma nova compreensão sobre os processos iniciais da formação da vida, a técnica pode reduzir a dependência de testes em animais. Também há possibilidade futura de aplicação em transplantes humanos, por meio da produção de tecidos específicos a partir de células programadas.

Embriões sintéticos e bioética

Apesar dos avanços, o estudo levanta discussões sobre os limites éticos da bioengenharia. Embora a equipe reforce que os embriões criados não são viáveis para gerar seres vivos, a proximidade com estruturas naturais levanta questionamentos sobre uso, descarte e regulamentação de embriões artificiais.

O Instituto Weizmann informou que a pesquisa está restrita a modelos animais e que não há uso de células humanas. O foco atual é aprofundar o entendimento sobre formação de órgãos, reprodução assistida e engenharia de tecidos. Não há previsão de testes semelhantes com embriões sintéticos humanos.

Próximos passos

Os pesquisadores pretendem continuar testando novas combinações de células-tronco, além de aprimorar o ambiente de cultivo. A meta é alcançar uma taxa maior de sucesso na formação de estruturas organizadas e entender com mais profundidade os mecanismos que desencadeiam a formação de cada órgão no estágio embrionário.

O trabalho de Hanna e sua equipe amplia o conhecimento científico sobre os primeiros dias de vida e estabelece um novo patamar para a pesquisa em desenvolvimento embrionário e aplicações médicas futuras.