A vida em família com TDAH: frustrações, aprendizados e estratégias
Especialistas e familiares revelam o que está por trás da convivência com o TDAH
Por: Iago Bacelar
04/09/2025 • 12:57 • Atualizado
Famílias que convivem com TDAH enfrentam desafios constantes em casa e no trabalho, desde crianças com dificuldade de atenção escolar até adultos com desorganização e impulsividade. A rotina diária é marcada por frustração, conflitos e cansaço emocional, exigindo compreensão e estratégias específicas para reduzir o impacto na vida familiar.
Especialistas e familiares reforçam que a sobrecarga afeta a qualidade de vida dos cuidadores, tornando essencial buscar apoio profissional, orientação e métodos de organização adaptados para cada idade.
Impacto do TDAH na rotina familiar
A psiquiatria infantil e adulta aponta que o transtorno interfere na organização da casa e no desempenho escolar. Entre os sintomas mais comuns em crianças estão a desatenção, a dificuldade em seguir rotinas, a impulsividade e os comportamentos opositores, o que aumenta o desgaste dos pais. Já nos adultos, o diagnóstico tardio provoca desorganização financeira, esquecimentos, instabilidade no trabalho e impulsividade nas relações.
Fabiana Rebouças, mãe de um menino com TDAH e esposa de um adulto diagnosticado, contou que a maior dificuldade é manter as rotinas básicas em casa. Segundo ela, a tentativa de estabelecer horários para alimentação, higiene e organização nem sempre funciona, o que gera frustração e impotência.
A Dra. Paula Zanforlin acrescenta que esse cenário gera esgotamento emocional. “Na criança, lidar com desatenção, impulsividade e comportamentos opositores aumenta o desgaste parental. No adulto, a dificuldade em manter compromissos e organizar a vida gera frustração crônica na família”, explicou.

Psiquiatra Dra. Paula Zanforlin. Foto: Arquivo pessoal.
Sinais de sobrecarga emocional e estratégias de enfrentamento
O desgaste dos familiares pode se manifestar em irritabilidade, insônia, ansiedade e até sintomas físicos. De acordo com a Dra. Paula, pais muitas vezes sentem uma constante sensação de fracasso educacional e chegam a se isolar socialmente. No caso de adultos com TDAH, ela alerta que o cansaço emocional é frequente e pode vir acompanhado de dores de cabeça e tensão muscular.
Fabiana relatou que esse peso diário gera momentos de desânimo. “É a sensação de estar sempre remando contra a maré, tentando e nunca conseguindo. A gente coloca esforço para manter rotina, organização, comunicação, mas a pessoa não acompanha”, afirmou. Ela contou ainda que a culpa é um sentimento constante: quando perde a paciência, sente que não acolheu o filho da forma que deveria.
Apoio profissional e estratégias práticas
Para lidar com o TDAH em casa, Fabiana busca orientação de psicopedagogos, neuropsicólogos e terapeutas que acompanham o filho. Segundo ela, compreender o transtorno é essencial para manter o equilíbrio emocional da família. Ela tem considerado criar um cronograma ou uma agenda visual para ajudar na rotina do menino, ao mesmo tempo em que o marido tenta usar anotações e pedir desculpas quando esquece algo importante.
A Dra. Paula reforça que o acompanhamento não deve se restringir ao paciente diagnosticado. “É fundamental que os familiares recebam psicoeducação, treinamento parental e, se necessário, terapia de apoio. Para adultos, orientação conjugal e familiar ajuda a lidar com anos de convivência com sintomas não explicados”, destacou.
Diferenças de convivência entre crianças e adultos
O manejo da condição varia conforme a idade. Nas crianças, a prioridade é o treinamento parental, a estruturação da rotina e o monitoramento escolar. Nos adultos, o foco está na gestão do tempo, organização financeira, suporte conjugal e orientação profissional.
Fabiana percebeu essa diferença no dia a dia. Segundo ela, enquanto o adulto tem consciência do que é o TDAH e tenta corrigir quando falha, a criança parece “fora de órbita” e não processa o impacto que causa nos outros, o que exige paciência redobrada.
Conselhos para familiares
Manter expectativas realistas, dividir responsabilidades e cuidar do próprio bem-estar são medidas apontadas como fundamentais para reduzir frustração e culpa.
Para a Dra. Paula, compreender que o TDAH não resulta de falhas educativas é essencial. Já Fabiana concluiu que o mais importante tem sido mudar o olhar dentro de casa: compreender mais do que controlar, adaptar rotinas para facilitar a vida de todos e cultivar um ambiente de empatia.
“Quando a gente entende o TDAH, a forma de agir em casa muda. Isso traz um ambiente mais amoroso, onde há compreensão em vez de cobrança constante”, disse.
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