Gatos são principais predadores de espécies em extinção
Só no Brasil, há um gato para cada sete habitantes
Por: Gabriel Pina
08/07/2025 • 15:00
Por trás da fofura, os gatos domésticos escondem um segredo: eles são uma das espécies invasoras mais destrutivas do planeta. Enquanto animais como o lagostim-americano ou o peixe-lúcio recebem atenção nos relatórios ambientais, esses felinos domésticos operam silenciosamente, deixando um rastro de extinções em seu caminho.
Ao todo, estima-se que os gatos sejam responsáveis pela morte de mais de 1 milhão de aves por ano apenas em algumas ilhas. Um estudo abrangente, analisando mais de 500 publicações científicas, catalogou 2.084 espécies de diferentes na dieta felina, incluindo 350 ameaçadas de extinção e outras 11 já extintas.
Presentes em todos os continentes, exceto na Antártida, os gatos acompanharam a expansão humana pelo mundo. No Brasil, há um gato para cada sete habitantes, totalizando 27,1 milhões de potenciais caçadores, segundo o censo Pet IPB de 2022.
O que torna os gatos particularmente perigosos é sua combinação única de características. Suas garras retráteis, visão noturna, agilidade extraordinária e um instinto de caça que persiste mesmo em animais bem alimentados.
Já em ecossistemas insulares, onde as presas evoluíram sem predadores mamíferos, o impacto é devastador: em locais nas Ilhas Canárias e em Cabo Verde, foi noticiado o desaparecimento de espécies inteiras de animais após a chegada dos gatinhos.
Mas culpar os gatos é simplificar um problema complexo. A verdadeira raiz está na ação humana e sua introdução irresponsável desses animais em novos ecossistemas, no abandono de mascotes e na falha em controlar populações ferais.
Enquanto compartilhamos fotos fofas de gatos nas redes sociais, raramente lembramos que esses mesmos animais podem estar contribuindo para uma crise de biodiversidade sem precedentes.
Porém, a solução não está em demonizar os gatos, mas em assumir nossa responsabilidade como sua espécie guardiã. Programas de esterilização em massa, manutenção dos gatos domésticos em ambientes controlados e políticas públicas para lidar com animais abandonados são medidas urgentes.
No fim, o dilema dos gatos invasores reflete um paradoxo maior de nosso tempo: nossa capacidade de amar criaturas que, sem saber, ajudamos a tornar destrutivas. Resolver esse paradoxo exigirá tanto de nossa ciência quanto de nossa compaixão, por nossos animais de estimação e pelo mundo selvagem que eles, involuntariamente, ameaçam.