Trump mira estudantes e jornalistas estrangeiros com novas regras
Governo americano planeja reduzir tempo de permanência com vistos
Por: Iago Bacelar
29/08/2025 • 13:00
O governo dos Estados Unidos apresentou uma proposta para restringir o tempo de permanência de estudantes e jornalistas estrangeiros no país. A medida, divulgada nesta quinta-feira (28), faz parte de uma série de ações para reduzir a imigração irregular.
Novos prazos para vistos
O plano prevê a fixação de prazos para vistos de não imigrantes. Os vistos F, destinados a estudantes internacionais, e os vistos J, usados em programas de intercâmbio cultural, terão limite de até quatro anos. Já os vistos I, concedidos a jornalistas estrangeiros, passam a ter duração de 240 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 240 dias. No caso de jornalistas chineses, o prazo cai para 90 dias.
Atualmente, os vistos são emitidos de acordo com a duração do programa educacional ou da missão jornalística, sem ultrapassar dez anos.
Segundo dados do governo, 1,6 milhão de estudantes internacionais estavam com visto F no país no ano passado. No atual ano fiscal, iniciado em outubro de 2023, foram emitidos 355 mil vistos de intercâmbio e 13 mil para profissionais da imprensa.
Argumentos do governo americano
As propostas foram publicadas no Federal Register, o Diário Oficial dos EUA, abrindo um período para comentários públicos antes da entrada em vigor.
O Departamento de Segurança Interna alegou que parte dos estrangeiros utilizava os estudos como meio para permanecer indefinidamente no país.
“Por muito tempo, governos anteriores permitiram que estudantes estrangeiros e outros portadores de visto permanecessem nos EUA virtualmente por tempo indeterminado, representando riscos à segurança, custando quantias incalculáveis de dinheiro aos contribuintes e prejudicando os cidadãos americanos”, afirmou o órgão.
Apesar disso, o próprio Departamento de Comércio informou que estudantes internacionais geraram mais de 50 bilhões de dólares (R$ 270 bilhões) para a economia em 2023.
Impacto nas universidades
Os Estados Unidos receberam mais de 1,1 milhão de estudantes internacionais no ano letivo de 2023-24, o que representa uma das principais fontes de receita das instituições, já que estrangeiros pagam integralmente as mensalidades.
Para representantes acadêmicos, a proposta pode afetar a competitividade global das universidades.
“Esta proposta envia uma mensagem a indivíduos talentosos de todo o mundo de que suas contribuições não são valorizadas nos Estados Unidos”, afirmou Miriam Feldblum, presidente da Aliança de Presidentes para o Ensino Superior e Imigração.
Segundo ela, as regras podem desestimular a vinda de estudantes e enfraquecer a capacidade de atrair os melhores talentos.
Conflito político sobre universidades
O anúncio ocorre no início do ano letivo, quando muitas instituições já relatam queda nas matrículas de estrangeiros devido a medidas anteriores do governo Donald Trump.
Na mesma semana, o presidente sugeriu aumentar o número de estudantes chineses nos EUA para 600 mil, destacando relações com Xi Jinping. A fala contrasta com a promessa anterior do Secretário de Estado, Marco Rubio, de revogar vistos de estudantes chineses.
Desde o início do segundo mandato de Trump, cerca de 6 mil vistos foram cancelados, parte deles relacionada a protestos universitários contra Israel.
Além disso, o governo suspendeu bilhões de dólares em verbas de pesquisa e o Congresso aumentou impostos sobre doações a universidades privadas. Antes das eleições, o atual vice-presidente JD Vance chegou a dizer que os conservadores deveriam “atacar as universidades”, classificando-as como “o inimigo”.
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