Rússia substitui Wagner pelo Africa Corps em operações no Sahel
Novo grupo paramilitar, controlado pelo Kremlin, visa consolidar presença militar russa
Por: Lorena Bomfim
31/08/2025 • 17:00
O Grupo Wagner, notório mercenário russo conhecido por abusos na África e por um motim fracassado contra Moscou, está sendo substituído pelo Africa Corps, grupo paramilitar controlado pelo Kremlin. Especialistas afirmam que a mudança visa consolidar operações militares russas sob supervisão estatal, apagando a marca Wagner e reduzindo riscos legais e reputacionais.
O Wagner atuava no Sahel — região que se estende do Senegal ao Sudão — e foi um parceiro estratégico de Moscou em países como Mali e República Centro-Africana (RCA), onde ajudou a combater rebeldes e proteger governos locais. A saída do grupo, anunciada em junho no Mali, ocorre em meio a instabilidade, golpes e insurgências extremistas, e abre espaço para o Africa Corps, que reúne comandantes do exército russo e ex-membros do Wagner.
Na RCA, o ministério da Defesa russo teria solicitado às autoridades locais a substituição do Wagner pelo Africa Corps, com pagamento em dinheiro pelos serviços prestados, que incluem proteção presidencial e operações contra grupos armados. O financiamento do Wagner na região sempre foi envolto em sigilo, mas investigações apontam que empresas ligadas ao ex-líder Yevgeny Prigozhin obtiveram concessões de mineração de ouro e diamantes. Prigozhin morreu em agosto de 2023, dois meses após a rebelião fracassada.
Segundo analistas, a transição para o Africa Corps busca dar maior controle e legitimidade ao Kremlin, evitando a associação com abusos de direitos humanos que marcaram o Wagner. O grupo enfrentou sanções da União Europeia e foi alvo de pedidos de investigação pelas Nações Unidas. Especialistas locais divergem quanto à eficácia da atuação militar russa: alguns apontam que o Wagner contribuiu taticamente contra rebeldes, enquanto outros afirmam que sua presença agravou a violência e as baixas civis no Mali, Burkina Faso e Níger.
A ONU alerta que a situação de segurança no Sahel está se deteriorando rapidamente, com aumento da atividade terrorista, uso de drones e conexões com o crime organizado transnacional. Ahunna Eziakonwa, secretária-geral assistente da ONU para África, destaca a necessidade de apoio internacional que respeite os direitos humanos, independentemente de sua origem.
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