Mudanças climáticas triplicam mortes por calor na Europa
Entre 23 de junho e 2 de julho, 12 cidades europeias registraram 2,3 mil óbitos
Por: Lorena Bomfim
10/07/2025 • 11:45
Um estudo divulgado nesta quarta-feira (9) estima que a onda de calor intenso que atingiu a Europa entre os dias 23 de junho e 2 de julho causou cerca de 2,3 mil mortes em 12 grandes cidades do continente. As temperaturas, que chegaram a até 46 °C em regiões de Espanha e Portugal, ficaram até 4 °C acima da média para o período.
Segundo a pesquisa realizada pelo Imperial College London e pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, ao menos 1,5 mil dessas mortes foram atribuídas diretamente às mudanças climáticas causadas pela ação humana — principalmente pela emissão de gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Os cientistas estimam que, sem o agravamento provocado pelo aquecimento global, o número de vítimas teria sido cerca de 800. Isso indica que as mudanças climáticas triplicaram a severidade dos impactos da onda de calor.
As cidades analisadas foram Madrid e Barcelona (Espanha), Lisboa (Portugal), Londres (Reino Unido), Frankfurt (Alemanha), Milão, Roma e Sassari (Itália), Atenas (Grécia), Budapeste (Hungria) e Zagreb (Croácia). Em algumas regiões, como o norte de Londres, a sensação térmica chegou a 48 °C.
As estimativas de mortalidade foram feitas com base em modelos epidemiológicos e dados históricos, considerando mortes provocadas diretamente pelo calor ou agravamento de doenças pré-existentes. Segundo os pesquisadores, muitos óbitos causados por altas temperaturas não são oficialmente registrados, o que torna as ondas de calor “assassinas silenciosas”.
“Ondas de calor não deixam destruição visível, como incêndios ou tempestades, mas seus efeitos são devastadores. Um aumento de 2 °C ou 3 °C pode ser a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas”, afirmou Ben Clark, líder do estudo.
Idosos, crianças pequenas, pessoas com doenças crônicas e trabalhadores expostos ao sol são os mais vulneráveis às altas temperaturas.
Junho de 2025 foi o terceiro mais quente do planeta, de acordo com o serviço europeu Copernicus, e o mais quente já registrado na Europa Ocidental. O calor extremo foi potencializado por temperaturas recordes na superfície do Mar Mediterrâneo, conforme explicou a cientista Samantha Burgess.
Além das mortes, a onda de calor favoreceu o surgimento de incêndios florestais em diversos países. Em Marselha, na França, o fogo deixou mais de 100 feridos e forçou a evacuação de centenas de moradores, mesmo com a queda recente nas temperaturas.
Um levantamento anterior publicado em 2023 na revista Nature já havia apontado que as ondas de calor mataram 61 mil pessoas na Europa em 2022, evidenciando o agravamento da crise climática no continente.
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