Israel declara Gaza zona de combate e suspende ajuda humanitária
Governo Netanyahu planeja ofensiva terrestre contra Hamas
Por: Iago Bacelar
29/08/2025 • 18:00
O Exército de Israel declarou nesta sexta-feira (29) a Cidade de Gaza como “zona de combate perigosa” e suspendeu o corredor humanitário que mantinha na cidade há cerca de um mês. A medida é parte da preparação para uma ampla ofensiva terrestre contra o grupo terrorista Hamas, com objetivo de controlar todo o território palestino.
Avanço militar e primeiros estágios da tomada
Segundo o Exército israelense, os arredores da Cidade de Gaza já estão sob controle e as operações são realizadas “com grande intensidade”. “A partir de hoje, às 10h00 (4h no horário de Brasília), a pausa tática local nas atividades militares não se aplicará à área da Cidade de Gaza, que passa a constituir uma zona de combate perigosa”, informou a instituição, referindo-se a pausas diárias e ao corredor humanitário criado em julho para distribuição de alimentos.
O governo de Benjamin Netanyahu anunciou também a recuperação do corpo do refém Ilan Weiss e de evidências relacionadas a outro refém morto, não identificado. Segundo autoridades, cerca de 50 reféns israelenses permanecem em Gaza, sendo aproximadamente 20 ainda vivos.
Evacuação e crise humanitária
Cerca de um milhão de palestinos vivem na Cidade de Gaza, segundo a ONU, incluindo pessoas deslocadas pela guerra entre Israel e Hamas. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou que uma ofensiva ampla terá consequências catastróficas. Nos últimos dias, o Exército tem pedido que moradores evacuem a cidade. “Cada família que evacuar a cidade para o sul receberá a maior assistência humanitária possível”, declarou o porta-voz Avichay Adraee, citando tendas, novos centros de distribuição e rede de água.
Apesar das recomendações, líderes religiosos afirmaram que permaneceriam na cidade, considerando a fuga uma sentença de morte. Fotos da agência AFP mostraram filas de pessoas deixando suas casas com colchões, cadeiras e sacolas rumo ao sul. A ONU alerta que deslocamento forçado em massa pode configurar crime de guerra.
A Cidade de Gaza enfrenta fome generalizada identificada pela ONU, primeira ocorrência do tipo no Oriente Médio. O conflito gerou intensa crise humanitária, com bombardeios a bairros como Ebad-Alrahman e Zeitoun.
Críticas internacionais e ofensiva planejada
Países como Espanha, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Noruega e Eslovênia criticaram a ofensiva. Israel avançou nos ataques aéreos desde 8 de agosto, quando Netanyahu aprovou o plano para tomar a cidade. Tanques e tropas terrestres se aproximam dos bairros, enquanto o governo mantém a meta de libertar todos os reféns de uma vez. O ministro da Defesa Israel Katz afirmou que destruirá a cidade caso o Hamas não aceite o fim da guerra nas condições israelenses.
A operação terrestre, planejada desde o início de agosto, será “progressiva, precisa e seletiva”, segundo um comandante militar. “Alguns destes locais são zonas nas quais não operamos anteriormente, onde o Hamas ainda mantém capacidade militar”, explicou, e a ação “vai continuar até 2026”, segundo a rádio militar.
Reações do Hamas e mediação internacional
O Hamas classificou o plano de conquista de Gaza como “desrespeito flagrante” aos esforços de mediação do Egito e Catar. Apesar de ter concordado com proposta de cessar-fogo recentemente, o grupo se mantém em alerta devido à ofensiva israelense.
A tomada gradual da cidade ocorre após divergências internas no comando militar israelense. O tenente-general Eyal Zamir discordou temporariamente de Netanyahu, preocupado com o risco aos reféns, mas afirmou que governo e Exército permanecem alinhados quanto ao objetivo de vitória total sobre o Hamas.
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