EUA manipula dados de relatório sobre violência global, diz ONG
Governo poupo aliados envolvidos em conflitos, como Israel e El Salvador
Por: Gabriel Pina
13/08/2025 • 17:30 • Atualizado
A Human Rights Watch (WRH), uma das mais importantes organização não governamental (ONG) de direitos humanos, afirmou que o relatório anual de violações de direitos humanos em diversos países do mundo, divulgado pelo governo dos Estados Unidos, teve seus resultados manipulados.
Segundo a WRH, o levantamento, feito pelo Departamento de Estado do governo de Donald Trump, poupou os países aliados dos EUA, como El Salvador, Hungria e Israel, na lista de violações, enquanto países com relações abaladas com a nação norte-americana, como Brasil, tiveram seus dados manipulados, apontando um cenário desproporcional da realidade.
“O novo relatório de direitos humanos do Departamento de Estado é, em muitos aspectos, um exercício de encobrimento e enganação. O governo Trump transformou grande parte do relatório em uma arma que faz os autocratas parecerem mais palatáveis e minimiza os abusos de direitos humanos que ocorrem nesses lugares”, afirma a diretora da ONG, Sarah Yager.
Além disso, Yager aponta que o relatório de 2025 excluiu informações importantes ligadas à vulnerabilidade de pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiências, entre outros grupos.
“Categorias inteiras de abusos foram apagadas, enquanto graves violações de direitos por governos aliados foram encobertas”, destacou Sarah.
Desde 1974, o relatório anual sobre direitos humanos do Departamento de Estado é obrigatório para auxiliar o governo dos EUA nas relações com países que tenham “padrão consistente de violações graves de direitos humanos internacionalmente reconhecidos”. Confira quais inconsistências foram apontadas:
Brasil
Segundo a WRH, o governo de Trump destacou uma piora na situação de direitos humanos, destacando uma suposta “violação à liberdade de expressão”, usando a mesma justificativa para a aplicação do tarifaço contra o Brasil.
“O governo minou o debate democrático ao restringir o acesso a conteúdo online acusado de ‘minar a democracia’, suprimindo desproporcionalmente o discurso de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro”, disse o texto do relatório.
Em off, um ministro do Supremo Tribunal da Justiça disse para o portal G1 que o relatório “Não pode ser levado a sério, é uma brincadeira de mau gosto, só que elaborado pela maior potência mundial".
Israel
No caso de Israel, o levantamento omitiu informações relacionadas aos “vastos danos e a destruição da infraestrutura essencial de Gaza e da maioria das casas, escolas, universidades e hospitais”, o que implica na distorção do verdadeiro impacto das ações de Israel contra o povo palestino.
El Salvador
Apesar do governo de El Salvador ser alvo de denúncias relacionadas a prisões arbitrárias, julgamentos em massa sem direito adequado à defesa, perseguições a jornalistas e por manter um estado de exceção há anos com suspensão das liberdades individuais, o relatório estadunidense afirma que “não houve relatos confiáveis de violações significativas dos direitos humanos”.
Hungria
Por fim, Human Rigths Watch destaca que o governo dos EUA ignora os esforços crescentes do governo húngaro para minar as instituições democráticas e o Estado de direito, incluindo severas restrições à sociedade civil e mídia independente, e abusos contra pessoas LGBT e migrantes.
Relacionadas