Bahia tem segunda maior taxa de mortes violentas de jovens em 2024
Estado registrou 12,2 casos por 100 mil habitantes de 0 a 17 anos, quase o triplo da média nacional, segundo Anuário de Segurança Pública
Por: Lorena Bomfim
06/08/2025 • 09:39
A Bahia foi o segundo estado com maior número de mortes violentas intencionais (MVI) de crianças e adolescentes no Brasil em 2024. O dado consta no 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, analisado pela reportagem do BNews. O estado registrou uma taxa de 12,2 casos por 100 mil habitantes de 0 a 17 anos — quase o triplo da média nacional, que é de 4,6.
Em todo o país, foram registradas 2.356 mortes violentas de crianças e adolescentes nesse grupo etário em 2024. Desse total, 2.103 vítimas tinham entre 12 e 17 anos, o que representa 89% dos casos. A principal causa foi o homicídio doloso, com 1.910 ocorrências, equivalentes a 81% das mortes. Em seguida, aparecem as mortes decorrentes de intervenções policiais (MDIP), com 407 registros — sendo 404 deles de adolescentes. Entre 2023 e 2024, esse tipo de ocorrência aumentou 15,7%, passando de 16,6% para 19,2% das mortes violentas de adolescentes.
Outras causas incluem lesão corporal seguida de morte (22 casos) e latrocínio (17 registros).
Os estados das regiões Norte e Nordeste concentraram as maiores taxas de MVI. Destaques negativos incluem:
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Amapá: 13,6
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Bahia: 12,2
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Ceará: 10,6
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Alagoas: 8,3
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Pernambuco: 8,2
O anuário aponta que o cenário reforça desigualdades regionais persistentes. As vítimas são majoritariamente negras, do sexo masculino e moradoras de áreas periféricas. Na faixa de 0 a 11 anos, meninos já representam 62,2% das vítimas — aumento em relação aos 53,3% registrados em 2023. Entre adolescentes de 12 a 17 anos, quase 90% das vítimas são do sexo masculino.
O espaço onde ocorrem as mortes também varia conforme a idade. Entre crianças, 50,7% das mortes ocorrem em casa. Já entre adolescentes, 64,3% dos casos ocorrem em vias públicas, o que evidencia o envolvimento desse grupo em contextos de violência urbana.
Em relação aos meios utilizados, crianças entre 0 e 11 anos são majoritariamente vítimas de agressão (21,8%) e outros métodos (36,3%). Armas de fogo respondem por 31,6% dos casos nessa faixa. Entre adolescentes, no entanto, armas de fogo estão presentes em 87,3% das MVI, o que demonstra a centralidade da violência armada nesse grupo.
O risco de morte aumenta significativamente a partir dos 14 anos. Aos 14, foram 144 mortes violentas, número que salta para 900 aos 17 anos. O mesmo padrão se aplica às mortes em intervenções policiais, que sobem de 15 casos aos 14 anos para 193 aos 17 — um aumento de mais de 12 vezes.
O anuário destaca ainda a desigualdade racial nas mortes: adolescentes negros representam 85,1% das vítimas de MVI, enquanto brancos correspondem a apenas 14,4%. Isso significa que, em 2024, ao menos quatro em cada cinco adolescentes mortos no Brasil eram negros, o que reforça o impacto do racismo estrutural na letalidade juvenil.
Em entrevista ao BNews, Sara Sacramento, assessora de advocacy da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, afirmou que a ausência do Estado contribui diretamente para esse cenário.
“Essas mortes se relacionam com a ausência intencional do Estado e a precarização da vida nas periferias. A falta de acesso a direitos básicos como saúde, saneamento, moradia e alimentação contribui para a morte lenta dessas populações”, explicou. Segundo ela, trata-se de uma forma de necropolítica em duas dimensões: “fazer morrer” (pela violência direta) e “deixar morrer” (pela ausência de políticas públicas).
A organização atua desde 2015 com foco em justiça racial, econômica e políticas de combate às drogas.
Resposta da SSP-BA
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que, nos últimos dois anos, as mortes violentas no estado registraram quedas de 6% em 2023 e de 8,2% em 2024. No primeiro semestre de 2025, a redução foi de 7,3% nos registros de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte.
A SSP também destacou a contratação de 6 mil novos profissionais de segurança e os investimentos em equipamentos, que contribuíram para a ampliação das ações de combate ao crime organizado.
Veja nota na íntegra
A Secretaria da Segurança Pública ressalta que nos últimos dois anos as mortes violentas apresentaram reduções de 6% (2023) e de 8,2% (2024) na Bahia. No primeiro semestre de 2025, a queda nos registros de homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte foi de 7,3%.
Destaca ainda que a contratação de 6 mil novos profissionais da Segurança Pública e os investimentos em novos equipamentos garantiram a ampliação das ações de combate ao crime organizado.
Com relação aos casos de mortes decorrentes de intervenção policial, a SSP esclarece que todas as ocorrências são investigadas pela Polícia Civl e também pelas respectivas Corregedorias. Salienta ainda os investimentos em tecnologia e equipamentos de inteligência, visando a atuação sempre mais eficiente e dentro da legalidade.