Bahia recebe só 60% do valor necessário para manter estradas de terra em 2025
Produtores relatam prejuízos e dificuldades para escoar a produção
Por: Iago Bacelar
15/08/2025 • 14:00
O governo federal destinou R$ 141,4 milhões para manutenção das estradas de terra na Bahia em 2025, o que equivale a 60% dos R$ 234,6 milhões calculados como necessários pela Conferência Nacional dos Municípios (CNM). As vias rurais são fundamentais para o escoamento da produção agrícola e deslocamento de moradores, mas enfrentam problemas estruturais.
O levantamento da CNM identificou 104,7 quilômetros de estradas vicinais no estado, com custo médio de manutenção de R$ 13,51 mil por quilômetro. Entre 1995 e 2025, o convênio firmado entre União e estados previa repasse anual de R$ 1,03 bilhão para os municípios baianos, mas apenas R$ 637,1 milhões foram liberados no período.
Impactos no campo
O produtor rural Odair José Nascimento, de Itororó, afirma que as condições das vias não mudaram nos últimos dez anos. Segundo ele, moradores da zona rural levam o dobro do tempo para chegar ao centro da cidade em comparação ao trajeto com manutenção adequada.
“E tudo piora quando chove. O que a gente faz é se reunir, quando pode, para consertar e tapar um buraco ou outro, mas temos essa dificuldade”, relata.
Os mutirões organizados por moradores e produtores geram custos com material, alimentação e perda de parte do expediente. A melhora costuma ser temporária, já que o serviço não utiliza material especializado.
Nascimento conta que já teve o motor do carro danificado ao desviar de buraco, resultando em prejuízo de R$ 4 mil. Ele afirma que outros produtores passaram pela mesma situação.
“O carro já saiu no guincho aqui. É prejuízo com a quebra, manutenção e com as frutas que machucam durante o transporte. Tudo isso afeta o comércio”, afirma. O produtor cultiva banana, leite, cacau e hortaliças.
Setor cafeeiro afetado
O presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé-BA), João de Araújo, diz que municípios menores sofrem mais com a precariedade.
“Além das dificuldades que já temos com a falta de ferrovia e de qualidade das rodovias federais, tem as estradas municipais. E não há como produzir e não circular em estradas com qualidade”, aponta.
A associação afirma que é difícil executar obras próprias devido à extensão das áreas produtoras. Municípios como Barra da Estiva, Barra do Choça, Cocos, Itamaraju e Piatã estão entre os que apresentam maior número de estradas vicinais em condições precárias.
Ações do governo estadual
A Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) informa que as obras em estradas vicinais são realizadas em pontos críticos para evitar interrupções de tráfego, beneficiando o transporte escolar, o acesso a postos de saúde e comunidades quilombolas e indígenas, além de atividades como turismo e artesanato.
Entre 2016 e 2022, o Programa de Restauração e Manutenção de Rodovias (PREMAR II) executou obras em 1.301 pontos críticos em quatro regiões: Bacia do Paramirim, Sisal, Bacia do Jacuípe e Portal do Sertão, com investimento de R$ 129 milhões.
O novo programa Pró-Rodovias, em consulta pública, prevê investimento de R$ 135 milhões para intervenções em 600 pontos críticos de 51 municípios nas regiões Sertão do São Francisco, Baixo Sul e Chapada Diamantina.
Projeto Patrulha Mecanizada
A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) criou, em 2013, o projeto Patrulha Mecanizada para manutenção de estradas vicinais e rodovias. A iniciativa já asfaltou 230 quilômetros e manteve mais de seis mil quilômetros em mais de 50 estradas no Oeste da Bahia.
O projeto é financiado pelo Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e conta com a parceria de produtores rurais, da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), do Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (Prodeagro), do Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão (Fundeagro) e de prefeituras.
O Governo da Bahia participa via Prodeagro, que é uma renúncia fiscal aprovada pelo Decreto nº 14.500 de maio de 2013. O fundo é gerido por um conselho com representantes da Aiba, Abapa, Fundação Bahia, Secretaria de Agricultura e Seinfra. Outros parceiros incluem a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a Fundação Bahia e a Codevasf.
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