Pressão de Moraes por apoio no STF expõe divisão interna e frustra jantar com Lula
Presidente Lula tentou mostrar união do STF, mas fracassou em jantar no Alvorada
Por: Iago Bacelar
01/08/2025 • 08:34 • Atualizado
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes buscou apoio dos colegas para que todos assinassem uma carta conjunta em sua defesa após ter sido alvo de sanção imposta pelos Estados Unidos, com base na Lei Magnitsky. A medida proíbe qualquer relação de Moraes com o sistema financeiro e instituições econômicas norte-americanas.
Na quarta-feira (30), Moraes soube da punição e imediatamente articulou o texto com o objetivo de demonstrar unidade interna no STF diante da decisão do governo norte-americano. A proposta, no entanto, não teve adesão da maioria dos ministros.
Maioria recusou o gesto e preferiu nota institucional
Segundo informações obtidas pelo portal Poder360, mais da metade dos 11 ministros rejeitou a ideia da carta. Para esses integrantes da Corte, seria inadequado publicar um documento assinado por todos para contestar uma decisão interna de outro país.
A negativa frustrou Moraes, que esperava apoio unânime. Com o impasse, foi redigida uma nota institucional, de tom neutro, assinada apenas pelo presidente do STF, Roberto Barroso. O comunicado sequer mencionou os Estados Unidos ou a sanção.
Jantar com Lula teve adesão parcial e frustra expectativa de foto
Como alternativa à carta, um novo gesto de unidade foi pensado com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um jantar no Palácio da Alvorada, na noite de quinta-feira, 31 de julho, reuniria os 11 ministros com Lula em torno de uma demonstração pública de união.
O objetivo era repetir o movimento de 2023, após os ataques de 8 de janeiro, quando as lideranças dos Três Poderes caminharam juntas até a sede do STF. Desta vez, a intenção era registrar uma foto simbólica de Lula e os 11 ministros, unidos em defesa da soberania nacional — lema da nova campanha publicitária do governo federal.
No entanto, a adesão foi menor do que o esperado. Compareceram apenas 6 dos 11 ministros do Supremo: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Edson Fachin, Flávio Dino, Gilmar Mendes e Roberto Barroso. Estiveram ausentes André Mendonça, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Nunes Marques.
Fachin compareceu apenas por protocolo
Um dos ministros presentes, Edson Fachin, teria ido ao evento contra sua vontade. Fontes apontam que ele decidiu comparecer por razões institucionais. Próximo a assumir a presidência do STF em menos de dois meses, Fachin avaliou que sua ausência poderia ser mal interpretada. A situação se agrava pelo fato de que seu vice será justamente Alexandre de Moraes.
Mesmo com essa consideração estratégica, Fachin não teria manifestado apoio pleno à posição de Moraes.
Linguajar de Moraes incomodou ministros
A atuação recente de Alexandre de Moraes também tem gerado desconforto entre os integrantes do STF. Na decisão que determinou a colocação de tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Moraes sugeriu de forma indireta que os Estados Unidos seriam inimigos estrangeiros do Brasil.
Essa abordagem foi considerada inadequada por grande parte dos ministros, que veem com preocupação o tom adotado por Moraes nas decisões recentes. O sentimento predominante na Corte é de que o ministro está conduzindo o Supremo por um caminho sem retorno.
A falta de consenso sobre o apoio institucional e a repercussão das medidas do ministro demonstram uma divisão interna no STF que se tornou mais visível nos últimos dias. A ausência de cinco ministros no jantar promovido por Lula evidenciou publicamente esse cenário.
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