Como o setor produtivo reagiu à nova tarifa de Trump
Indústria e agropecuária pedem negociação e alertam para prejuízos
Por: Iago Bacelar
10/07/2025 • 09:00
Entidades que representam a indústria, a agropecuária e o comércio exterior demonstraram preocupação com a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump. O aumento, que entra em vigor em 1º de agosto, foi recebido como medida sem base econômica e com potencial de gerar prejuízos às exportações e ao emprego no Brasil.
CNI vê risco à integração entre indústrias dos dois países
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que não há justificativa econômica para o aumento das tarifas e alertou para os impactos sobre a economia brasileira, dada a forte integração entre os sistemas produtivos dos dois países.
“Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto”, disse Ricardo Alban, presidente da CNI. Ele destacou que, diante do cenário, o mais importante é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão.
A entidade apontou que, em 2024, cada R$ 1 bilhão em exportações ao mercado americano gerou 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção. A CNI defendeu uma comunicação contínua com os Estados Unidos para manter a cooperação econômica e buscar soluções que favoreçam ambos os lados.
Agropecuária e setor de carnes alertam para impactos imediatos
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) classificou a nova tarifa como um alerta nas relações comerciais e políticas entre os dois países. A entidade disse que a medida impacta diretamente o agronegócio brasileiro, com efeitos no câmbio, no custo de insumos importados e na competitividade das exportações.
Segundo nota da FPA, “é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”. A frente defendeu o fortalecimento das tratativas bilaterais e reafirmou a diplomacia como caminho estratégico para a retomada do diálogo.
No setor de carnes, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) alertou que a nova tarifa inviabiliza economicamente a venda de carne brasileira aos Estados Unidos.
“A Abiec reforça a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar”, declarou a entidade, que se colocou à disposição para o diálogo, a fim de evitar prejuízos ao setor e aos consumidores.
Comércio exterior teme efeitos sobre imagem do Brasil
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) avaliou que a tarifa imposta por Trump não é uma medida econômica, mas sim uma ação política com impacto comercial de longo alcance.
“É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional”, disse o presidente-executivo da AEB, José Augusto de Castro. A entidade teme que a medida crie insegurança entre importadores de outros países e afete a imagem do Brasil no mercado global.
A AEB também alertou para o risco de um cenário mais restritivo e acredita que o bom senso prevalecerá nas próximas negociações para reverter a taxação.
Medida será respondida com base na Lei de Reciprocidade
A tarifa de 50% foi anunciada por Donald Trump com a justificativa de retaliação aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil reagirá com base na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso em abril.
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, disse Lula. A lei autoriza o Brasil a retaliar barreiras comerciais impostas por outros países com medidas equivalentes.
O governo brasileiro também argumenta que os Estados Unidos têm superávit nas trocas comerciais com o Brasil e que a medida anunciada prejudica uma relação de longa data entre os dois países. A expectativa de setores produtivos e parlamentares é que haja abertura para negociação antes da entrada em vigor da tarifa.
Relacionadas