Anderson Torres nega fraude nas urnas e minimiza minuta
Interrogado no STF, Torres justificou ausência de ação e perda de celular
Por: Iago Bacelar
10/06/2025 • 11:49
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, afirmou nesta terça-feira (10), durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), que não encontrou elementos técnicos que indicassem fraude nas urnas eletrônicas durante sua gestão.
Torres diz que ministério não apurava urnas eletrônicas
Segundo ele, a pasta não possuía área técnica para investigar o sistema de votação. Em depoimento, o ex-ministro declarou que sempre informou ao então presidente Jair Bolsonaro que não havia qualquer dado técnico que apontasse problemas nas urnas.
“Tecnicamente falando, não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim”, afirmou Torres. Ele acrescentou que não tinha conhecimento técnico sobre o sistema eleitoral, e que essa posição era transmitida a qualquer autoridade que o questionasse.
Participação em live foi baseada em relatórios da PF
Torres também falou sobre sua participação na live de 29 de julho de 2022, realizada por Jair Bolsonaro. Ele relatou que pediu ao chefe de gabinete que levantasse informações para que pudesse apresentar sugestões de melhorias.
“Vieram até o meu chefe de gabinete alguns relatórios produzidos pela Polícia Federal [...]. Eles fazem algumas sugestões de aperfeiçoamento do sistema”, explicou. O conteúdo, segundo ele, foi usado para apontar melhorias, e não para levantar suspeitas de fraude.
Minuta encontrada era “do Google”, diz Torres
Outro ponto abordado foi a minuta apreendida em sua casa pela Polícia Federal (PF), que sugeria um estado de exceção para reverter o resultado das eleições. O ex-ministro alegou que desconhecia o documento e disse que o conteúdo estava disponível publicamente na internet.
“Na verdade, ministro, eu brinquei, não é a minuta do golpe, é a minuta do Google, porque tá no Google até hoje”, disse. Segundo Torres, o material foi incluído em uma das pastas que levava para casa e deveria ter sido descartado.
O réu afirmou ainda que não discutiu o conteúdo com Bolsonaro nem com outras autoridades. Afirmou que a minuta não foi escrita por ele, não sabia quem a redigiu e não sabia por que estava entre seus documentos.
Torres atribui perda de celular a estado emocional
Durante o interrogatório, Anderson Torres também comentou sobre a perda de seu celular nos Estados Unidos, logo após ter ciência da ordem de prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
“Eu perdi meu telefone, acho que aquele momento foi o mais duro da minha vida”, afirmou. Ele relatou que ficou emocionalmente abalado e, nesse contexto, perdeu o aparelho.
Torres negou tentativa de ocultar provas, afirmando que ao retornar ao Brasil forneceu a senha da nuvem do celular às autoridades. Disse ainda que a viagem com a família aos Estados Unidos havia sido planejada com antecedência e remarcada devido à carga de trabalho.
Investigação sobre tentativa de golpe
O depoimento de Torres faz parte do segundo dia de interrogatórios conduzidos pelo STF no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O ex-ministro é acusado de omissão durante os ataques de 8 de janeiro de 2023, quando era secretário de Segurança Pública do DF.
Durante as apurações, a PF encontrou em sua residência a minuta que propunha uma intervenção contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a instauração de estado de defesa para anular o resultado do pleito presidencial.
Outros depoimentos no STF
Além de Anderson Torres, também serão ouvidos os demais integrantes do chamado “núcleo crucial” da ação penal. Já prestaram depoimento o delator tenente-coronel Mauro Cid, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier.
A Primeira Turma do STF reservou cinco dias para os interrogatórios. Entre os nomes aguardados estão o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto.
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