Wagner Moura retorna aos palcos com adaptação de “Um Inimigo do Povo”
Peça reflete o Brasil atual e marca volta de Moura ao teatro após 16 anos
Por: Victor Hugo Ribeiro
23/09/2025 • 08:00
Após 16 anos fora das peças teatrais, Wagner Moura volta aos palcos com a obra “Um Julgamento - depois do Inimigo do Povo” onde, além de protagonizar, assinou o roteiro juntamente com a diretora e roteirista Christiane Jatahy.
A dupla contou com diversos textos para pesquisas com o objetivo de adaptar a obra clássica norueguesa de Henrik Ibsen (1828–1906), um dos fundadores do teatro realista moderno.
O Portal Esfera esteve presente na coletiva de imprensa que ocorreu nesta segunda-feira (22) e onde Wagner Moura, Christiane Jatahy, Danilo Grangheia e Julia Bernat contaram um pouco mais sobre a obra e os bastidores.
Diretora do espétaculo, Christiane Jatahy apontou sobre a importância do trabalho realizado com o roteiro e sua experiência em adaptação de textos clássicos para a transformação em obras que mesclam o que está acontecendo no Brasil e no mundo.
Uma releitura do texto original, a história traz um médico e cientista, Thomas Stockmann, que descobre que as águas do balneário termal de sua cidade estão contaminadas e acaba sendo acusado de prejudicar economicamente a cidade e de ignorar a vontade da maioria, se tornando “Um Inimigo do Povo”.

UM JULGAMENTO - Depois do Inimigo do Povo
"A trama traz muito desse embate no espaço jurídico, mas também familiar. Esse diálogo também é sobre o que a gente está querendo pensar hoje, refletir hoje, porque o teatro e a arte podem ser um espaço de transformação, e dar ao público a possibilidade de decidir a cada dia se esse personagem é ou não é um inimigo", afirmou Christiane Jatahy.
Releitura
Na adaptação, um dos principais pontos trabalhados é a questão do julgamento de Thomas, personagem vivido por Wagner Moura, além da montagem com temas como verdade, fake news, ciência, democracia, ecologia e até o cancelamento, fortalecendo o levantando o dilema entre o imperativo moral e o capital.
Assim, comentou Wagner Moura, detalhando sobre os tema e de como ele vê o cenário atual em comparação.
"Uma coisa muito interessante é não deixar o personagem 'limpinho'. A gente viu em várias montagens boas que têm parte de controvérsia, e nessas eles limpam e deixam o personagem muito heroico. E aqui não. Aqui a gente deixa ele dizer as coisas que ele diz. E o contraponto com o personagem do Danilo, a gente fez de uma forma que é a forma com que eu queria, juro para você, eu queria me relacionar com a direita dessa forma”, relatou.
O ator acrescentou sobre os conflitos e a polarização entre a direita e a esquerda, assim como as relações dos familiares, algo que será bem trabalhado no decorrer da peça.
“Porque a direita faz perguntas. A direita, que não vejo muito no Brasil, faz a pergunta certa. Essa direita faz a pergunta certa: se a gente quer bem-estar social, a gente quer cultura, a gente quer que as pessoas tenham um monte de coisa, que o Estado entre e faça muita coisa, e a direita com a qual eu queria dialogar pergunta assim, ok, e quem vai pagar por isso tudo que você está querendo? Essa é uma pergunta válida e é uma discussão importante, eu acho. Isso vai aumentar a carga tributária, as pessoas vão... Eu queria ter esse tipo de conversa, mas não tem. E a gente levanta essa discussão na peça. Então, a discussão na peça é muito equilibrada”, finalizou.
Ele também contou como está sobre sua agenda e a correria para dar conta da peça e da divulgação do filme que foi escolhido para representar o Brasil em busca de uma vaga no Oscar 2026, “O Agente Secreto”, que chega aos cinemas em 6 de novembro.
"Essa peça, conversa muito com O Agente Secreto antes das gravações, eu dizia muito a ele (Kleber Mendonça Filho), que também leu o roteiro sobre como a trama da polarização está presente nas duas obras que me doei para trazer as filmagens, os ensaios e está presente nas cerimônias", disse Moura.
Outro ponto abordado pelos atores, principalmente pelo baiano, é a importância da peça ter sua estreia nacional em Salvador.
“Para mim, é muito gratificante fazer a peça aqui, é onde eu me sinto bem e feliz, onde eu de fato comecei minha carreira e voltar para Salvador e o teatro é algo especial”, relatou Wagner.
Já os atores Julia Bernat e Danilo Grangheia, falaram sobre a facilidade de trabalhar com Wagner durante toda a coletiva, além de relatarem sobre a dinâmica da família e os conflitos, trazendo a trama para a sociedade atual. “É muito fácil e fluido atuar com Moura, ele traz uma veracidade no papel, e mesmo que eu esteja do lado dele como filha, consigo ver a importância do tema e de como ele é atual”, disse Julia.
Grangheia também concorda com Júlia e reforça como o conflito familiar na trama acaba ajudando ainda mais o julgamento com um todo e a ideia dos conflitos vividos pelos brasileiros nos últimos anos.
“UM JULGAMENTO - Depois do Inimigo do Povo”, que está marcado para estrear nos dias 3 até 12 de outubro, em Salvador, traz o retorno de Wagner Moura ao teatro, ao lado de Danilo Grangheia e Júlia Bernat. O elenco também conta com as participações audiovisuais de Marjorie Estiano (esposa do protagonista), Jonas Bloch (sogro), Tatiana Henrique (cientista) e Salvador e José Moura (filhos de Thomas Stockmann).
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