Os cantores Márcia Short e  Robson Moraes, que comandam juntos a Banda Mel, marcaram a década de 90 por contagiarem gerações, através de hits clássicos do Axé Music, como “Baianidade Nagô”, “Prefixo de Verão” e “Crença e Fé”.

Ao todo, o grupo soma 40 anos de trajetória, mesmo período que o gênero surgiu na música brasileira. O Portal Esfera conversou com a dupla para entender o que eles esperam do período de festas em Salvador, que é intensificado no verão e Carnaval. 

Na perspectiva da capital baiana seguir o plano de reconhecimento, reparação e de enaltecimento da cultura preta, a soteropolitana ressalta, em entrevista exclusiva à reportagem, que a base dessa pirâmide, formada por homens e mulheres negras e negros, precisam de oportunidades e visibilidades. 

“Poderia ser bem melhor e maior. Poderíamos agregar mais, ter mais artistas em atividade com condições justas de trabalho. Nós somos atores protagonistas dessa história”, analisa ela sobre o panorama da contratação no poder público e privado para os artistas negros. 

Resistência na música 

Dentro do cenário de oportunidades, Short afirma que já são 35 anos de resistência dentro da arte. A carreira, marcada geralmente por apresentações constantes na capital e no estado, já enfrentou períodos sem trabalhos, classificados por ela como desafiadores e escassos. 

“Se as pessoas que pensam o evento não enxergam a música que destacou e colocou a Bahia em cenário nacional e internacional se eles não conseguem ver tudo isso como importante a gente não pode meter o pé e entrar nos eventos”, reflete, em referência ao cenário atual de distanciamento de sua música dos festivais e produtores de festas que compõem a Bahia. 

A cantora entende que a mudança desse contexto passa pelo despertar dos organizadores de eventos culturais na tentativa de frear esse processo, que ela classificou como monocultura, já que as atenções estão mais voltadas no momento para o pagodão baiano. 

“Os produtores das festas, que compõem o verão baiano, precisam abrir os olhos e o coração para nós artistas da terra, quebrar essa barreira, estrutura racista excludente”, comenta.
Como possíveis alternativas para dar mais evidência ao gênero, Márcia Short entende que existe a necessidade de renovação, mais estratégia e união: “Eu acho que o Axé precisa se articular, se renovar para se fortalecer novamente.”

Verão e Carnaval 

Em função do retorno triunfal ao Carnaval neste ano, a Banda Mel já planeja surpresas para os fãs na próxima edição da maior festa de rua do mundo, que terá como temática o samba. “Surpresas com certezas vão pintar por aí. Vamos aguardar!”, revela Márcia Short.

Robson Moraes, que também comanda os vocais do grupo, aposta que o verão 2025/2026 será muito bom do ponto de vista de mercado, de agenda e shows.  “Muito provavelmente a gente faça a terça-feira [do Carnaval], inclusive com o primeiro ano, que a gente vai poder comemorar uma data que conseguimos colocar no calendário nacional o Dia Nacional do Axé Music, em 17 de fevereiro. Estamos preparando uma apresentação muito interessante”, garante o cantor, detalhando que também estará neste período percorrendo outros estados do Brasil. 

Firme no seu propósito de atuar para que a música baiana, que é o seu “carro chefe”, esteja sempre em evidência, o vocalista espera: “Vejo uma janela muito interessante nesse próximo verão que está chegando, talvez seja uma boa oportunidade de todos nós artistas nos juntarmos, trazermos de volta aquela atmosfera, que sempre esteve presente em todos os eventos do Axé Music.”.

Axé Music

O gênero musical é resultado de uma soma de diversos elementos musicais, a exemplo do samba, rock e o reggae e tem também com referência a origem africana. O movimento consolidou cantores talentosos como Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Netinho, Márcia Freire, Carlinhos Brown, Bell Marques e muito mais. 

Em 2026, o calendário nacional exaltará pela primeira vez o Dia Nacional do Axé Music, em 17 de fevereiro, data exata do lançamento da canção “Fricote”, do “pai do axé”, Luiz Caldas, em 1985.