Dia Nacional do Livro: conheça 10 clássicos nacionais para ler
O Portal Esfera separou obras primorosas da literatura brasileira para começar ou retomar o hábito, no Dia Nacional do Livro
Por: Sued Mattos
29/10/2025 • 07:00 • Atualizado
No Dia Nacional do Livro, comemorado nesta quarta-feira (29), o Portal Esfera separou dez livros clássicos da literatura nacional que vão prender sua atenção do início ao fim. Tem para todos os gostos, temas e autores consagrados do Brasil.
*Esta lista não está disposta por ordem de importância/relevância
Dom Casmurro (Machado de Assis)
Reprodução / Editora Antofágica
A pergunta atemporal “traiu ou não traiu?” vem desta obra prima realista de Machado de Assis, que ,mesmo 126 anos depois, mobiliza gerações em torno desse mistério deixado em aberto pelo autor.
No livro, o narrador Bento Santiago retoma a infância que passou na Rua de Matacavalos e conta a história do amor e das desventuras que viveu com Capitu, uma das personagens mais enigmáticas e intrigantes da literatura brasileira.
Nas páginas deste romance, encontra-se a versão de um homem perturbado pelo ciúme, que revela aos poucos sua psicologia complexa e enreda o leitor em sua narrativa ambígua acerca do acontecimento ou não do adultério da mulher com olhos de ressaca, uma das maiores polêmicas da literatura brasileira.
O Cortiço (Aluísio Azevedo)
Reprodução / Panda Books
Pobreza, corrupção, injustiça, traição são elementos que integram O cortiço, principal obra do Naturalismo brasileiro. Nela, Aluísio Azevedo denuncia as mazelas sociais enfrentadas pelos moradores de um cortiço no Rio de Janeiro no século XIX.
É um romance que convida a analisar por meio da observação crítica do cotidiano das personagens a animalização do ser humano, questão que se mostra, mais do que nunca, atual.
O livro traz as nuances da história da formação da moradia no Brasil como pano de fundo para uma história que traz personagens complexos e tipicamente brasileiros.
Seguindo os princípios do Naturalismo, teoria científica em ascensão da época, o autor defende a ideia que os personagens são fruto e - influenciados - pelo meio.
A hora da estrela (Clarice Lispector)
Reprodução / Editora Rocco
Naturalizada brasileira, Clarice Lispector é uma das maiores autoras do Brasil. Precursora de discussões atuais para a época em que escreveu e atemporais ainda hoje. Com uma escrita leve e ao mesmo tempo complexa, a autora consegue atingir todas as idades. É uma literatura para quem sente.
Pouco antes de morrer, em 1977, Clarice Lispector decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade. O resultado desse salto na extroversão é A hora da estrela, o livro mais surpreendente que escreveu.
A nordestina Macabéa, a protagonista de A hora da estrela, é uma mulher miserável, que mal tem consciência de existir. Depois de perder seu único elo com o mundo, uma velha tia, ela viaja para o Rio, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e gasta suas horas ouvindo a Rádio Relógio.
Apaixona-se, então, por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que logo a trai com uma colega de trabalho. Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante, que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera.
Clarice cria até um falso autor para seu livro, o narrador Rodrigo S.M., mas nem assim consegue se esconder. O desejo de desaparecimento, que a morte real logo depois consolidaria, se frustra.
Entre a realidade e o delírio, buscando social enquanto sua alma a engolfava, Clarice escreveu um livro singular. A hora da estrela é um romance sobre o desamparo a que, apesar do consolo da linguagem, todos estamos entregues.
Vidas Secas (Graciliano Ramos)
Reprodução / Editora Record
Vidas secas é reconhecidamente o mais importante livro de Graciliano Ramos, é um dos maiores clássicos da literatura nacional. Com palco de obra-símbolo do modernismo literário brasileiro, Vidas secas é um retrato atual, emocionante e cruelmente verdadeiro sobre o Brasil.
Lançado originalmente em 1938, Vidas secas retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca.
O pai, Fabiano, caminha pela paisagem árida da caatinga do Nordeste brasileiro com a sua mulher, Sinha Vitória, e os dois filhos, que não têm nome, sendo chamados apenas de “filho mais velho” e “filho mais novo”. São também acompanhados pela cachorrinha da família, Baleia, cujo nome é irônico, pois a falta de comida a fez muito magra.
Vidas secas pertence à segunda fase modernista da literatura brasileira, conhecida como “regionalista” ou “romance de 30”. Denuncia fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino.
É o romance em que Graciliano alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa: o que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro.
Alguma poesia (Carlos Drummond de Andrade)
Reprodução / Editora Record
Se a poesia é o seu forte, essa indicação é para você. Carlos Drummond de Andrade é um dos escritores mais consagrados da literatura brasileira. “No meio do caminho”, “Poema de sete faces” e “Quadrilha” estão entre os poemas mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade, e todos fazem parte de Alguma poesia, seu livro de estreia, publicado em 1930, quando o poeta tinha 28 anos.
Nesta, mais inequivocamente do que em quaisquer outras de suas obras, transparece a influência da Semana de Arte Moderna de 1922 e, sobretudo, de Mário de Andrade, com quem Drummond manteve uma farta correspondência literária.
O ideário e a estética modernistas estão presentes na maneira como o poeta se coloca no mundo – recusando antigas idealizações e inserindo-se no cotidiano, “como qualquer homem da Terra”. Estão também no delicioso senso de humor que caracteriza muitos dos poemas aqui reunidos – “Cidadezinha qualquer”, “Papai Noel às avessas”, “Cota zero” e “Balada do amor através das idades” são bons exemplos.
E, por fim, estão no enfrentamento do nacionalismo como tema, caso de “Europa, França, Bahia” e “Fuga”, entre outros.
Macunaíma - o herói sem nenhum caráter (Mário de Andrade)
Reprodução / Editora José Olympio
Nesta obra, Mário de Andrade, um dos principais autores do Modernismo no Brasil, queria - e talvez tivesse ideia - que faria uma revolução na história da literatura nacional, tal qual o movimento que ele fazia parte.
Macunaíma é uma das obras primas da literatura brasileira. É um retrato da sociedade brasileira, de quem é o brasileiro. Um anti-herói cheio de contradições é o que Mário de Andrade propõe nesse livro.
Foram muitas as perspectivas utilizadas por Mário de Andrade na construção dessa linguagem singular, pois ele se valeu de sua ampla visão da cultura popular para criar o personagem-título – Macunaíma foi forjado a partir de lendas indígenas e populares, colagens de histórias, mitos e modos de vida que, nele somados, deram existência a um tipo brasileiro ideal.
Um ser mágico, debochado e zombeteiro, que viaja pelo país – de Roraima a São Paulo, descendo o rio Araguaia, do Paraná aos pampas, até chegar ao Rio de Janeiro –, acompanhado de seus irmãos, Jiguê e Maanape, numa aventura para recuperar seu amuleto perdido: a muiraquitã.
A importância de Macunaíma para a cultura brasileira é imensurável. Em 1969, o filme homônimo dirigido por Joaquim Pedro de Andrade trouxe dois protagonistas: Grande Otelo, o Macunaíma negro; e Paulo José, o Macunaíma branco. No Carnaval de 1975, a Portela levou à avenida o samba-enredo Macunaíma – herói de nossa gente, puxado por Silvinho da Portela, Clara Nunes e Candeia.
As meninas (Lygia Fagundes Telles)
Reprodução / Companhia das Letras
Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora.
Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem.
A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso.
As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais.
Capitães de Areia (Jorge Amado)
Reprodução / Companhia das Letras
Não poderíamos deixar de fora um dos maiores escritores do Brasil e uma das jóias da Bahia: Jorge Amado.
Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes.
Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais.
Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.
Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus)
Reprodução / Editora Ática
Do diário de Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade. Em meio a um ambiente de extrema pobreza e desigualdade de classe, de gênero e de raça, nos deparamos com o duro dia a dia de quem não tem amanhã, mas que ainda sim resiste diante da miséria, da violência e da fome.
E percebemos com tristeza que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu sua atualidade.
Grandes Sertões: Veredas (Guimarães Rosa)
Reprodução / Companhia das Letras
João Guimarães Rosa foi um dos maiores escritores da história do Brasil, reconhecido como poeta, romancista, contista e diplomata. Ele inovou a literatura brasileira com sua linguagem única, mesclando o regional com o universal, e é autor de obras-primas como "Grande Sertão: Veredas".
Numa grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”, a luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra e traz à tona questões como lealdade e traição, vida e morte, amor e coragem, Deus e o diabo.
Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, um dos bandidos, mas nunca tem a coragem de revelar sua paixão. A identidade de Diadorim é um mistério constante para Riobaldo, que lida com escolhas morais e dilemas éticos, enquanto busca entender seu lugar no mundo e sua própria natureza. Nesse percurso transcorre as batalhas e escaramuças da grande guerra do Sertão.
Relacionadas
