Compra da Warner pela Netflix sacode Hollywood e acende alerta global
Acordo bilionário provoca reação imediata de cineastas, sindicatos e reguladores
Por: Redação
06/12/2025 • 15:00
A confirmação de que a Netflix fechou a compra da Warner Bros. Discovery por mais de US$ 70 bilhões, anunciada nesta sexta-feira (5), desencadeou um forte movimento de repercussões na indústria audiovisual, em sindicatos e entre autoridades regulatórias nos Estados Unidos e na Europa.
Antes mesmo de a negociação se concretizar, a possibilidade já dividia Hollywood, com críticas que vinham se acumulando desde que surgiram os primeiros sinais de que o maior serviço de streaming do mundo planejava assumir o controle de um dos estúdios mais tradicionais do país.
Entidades trabalhistas alertam que a operação pode reduzir salários e cortar postos de trabalho, enquanto concorrentes temem uma concentração inédita no mercado digital. Cineastas e exibidores dizem enxergar ameaça direta às salas de cinema.
Agora oficializada, a transação entra em um processo regulatório extenso, e potencialmente turbulento, marcado por alertas bipartidários nos EUA e por expectativas de escrutínio detalhado na União Europeia. Especialistas, por sua vez, não chegam a um consenso: alguns veem riscos operacionais e de perda de valor; outros dizem que o negócio pode reposicionar a Netflix em um patamar histórico ao agregar um dos maiores catálogos do entretenimento mundial.
Reação da indústria
A notícia foi recebida com resistência de nomes importantes do cinema, que temem o enfraquecimento da experiência nas salas.
James Cameron classificou o acordo como um “desastre”, criticando a visão da Netflix sobre o modelo de exibição tradicional. Para o diretor de “Avatar” e “Titanic”, a promessa de manter estreias nos cinemas é “isca para otário” se restringida a lançamentos mínimos apenas para elegibilidade ao Oscar.
No Brasil, Kleber Mendonça Filho, diretor de O Agente Secreto, reforçou a defesa da sala escura. Em publicação no X, afirmou que, embora o streaming seja um formato poderoso, não pode concentrar o suficiente para sufocar a cultura cinematográfica.
Produtores de Hollywood também se articularam: segundo a Variety, figuras influentes da área enviaram ao Congresso americano uma carta criticando a aquisição, argumentando que a gigante do streaming poderia “estrangular o mercado”.
Na Europa, exibidores associados ao Unic alertaram que a fusão representa “risco duplo”: menor número de filmes produzidos e ainda menos obras chegando às salas.
Pressão de sindicatos
As organizações trabalhistas de Hollywood foram uníssonas ao expressar preocupação com os efeitos da consolidação.
O Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA) pediu que a fusão seja barrada, alegando que a integração reduziria vagas, enfraqueceria salários e impactaria negativamente as condições de trabalho, além de limitar opções para os consumidores.
A DGA, que representa diretores, relatou “preocupações significativas” e defendeu a importância de um ambiente competitivo para garantir direitos criativos e estabilidade profissional.
A PGA, entidade dos produtores, afirmou que a mudança de comando sobre um dos estúdios mais antigos do país traz incertezas e cobrou garantias de que a nova estrutura preserve empregos e ofereça mais variedade ao público.
Ambiente regulatório
O acordo deve enfrentar um escrutínio acentuado por autoridades antitruste.
Um representante do governo dos Estados Unidos declarou à CNBC que a administração Trump vê a operação bilionária com “forte ceticismo”.
O senador Mike Lee, republicano e presidente da subcomissão de Antitruste, afirmou que o negócio levanta “questões sérias de competição”, avaliando que poucas transações recentes se comparariam em impacto potencial.
Do outro lado do espectro político, a senadora Elizabeth Warren chamou a fusão de “pesadelo antimonopólio”, afirmando que a Netflix poderia chegar a controlar quase metade do mercado de streaming, com risco de aumento de preços, menos diversidade de conteúdo e prejuízo aos trabalhadores.
Na União Europeia, analistas consideram improvável que o acordo seja barrado, mas projetam investigações longas e possíveis condicionantes, entre elas a manutenção de contratos de licenciamento ou até a exigência de venda de ativos como a HBO Max.
Concorrência e cálculos de mercado
A Paramount, apontada como favorita a fechar com a Warner até a véspera, reagiu duramente à derrota. Em carta enviada ao estúdio, o grupo afirmou que o negócio amplia de modo inaceitável o domínio global da Netflix.
A empresa calculou que a nova estrutura combinada poderia alcançar 43% dos assinantes de streaming no mundo, o que, segundo seus advogados, seria “presumivelmente ilegal” sob a legislação americana de concorrência.
Avaliação de especialistas
Especialistas consultados pelo Deadline apresentaram leituras divergentes sobre a compra.
François Godard, analista da Enders Analysis, lembrou que a fusão anterior entre Warner e Discovery já enfrentou dificuldades e disse ver risco de destruição de valor, questionando inclusive a capacidade da HBO de manter sua identidade sob o novo comando.
Já Guy Bisson, diretor da Ampere Analysis, avaliou o acordo como “grande, mas esperado”, afirmando que a transação permite à Netflix subir de patamar e incorporar um conjunto de propriedades intelectuais que levaria décadas para desenvolver internamente.
Relacionadas
Cinema e Séries
