Professora denuncia ter sofrido misoginia por aluno da UFBA
Autor do ataque emitiu nota conjunta com o Centro Acadêmico Ruy Barbosa
Por: Sued Mattos
15/10/2025 • 15:36 • Atualizado
Um estudante do curso de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), identificado como Pedro Maciel São Paulo Paixão, foi acusado de expressar xingamentos de caráter misógino contra Juliana Damasceno, vice-coordenadora do curso de Direito da instituição de ensino, durante uma reunião virtual que aconteceu no último dia 6 de outubro.
Através das redes sociais, a docente trouxe a público o episódio de violência, incluindo o uso das palavras proferidas pelo estudante: "vadia". Segundo a vice-coordenadora, o agressor, que é presidente da entidade representativa dos estudantes, o Centro Acadêmico Ruy Barbosa (CARB), se dirigiu a ela com essas palavras por três vezes durante a reunião virtual.
Segundo Juliana, o estudante participava da reunião como representante estudantil. Nas redes sociais, Pedro se apresenta como graduando em Direito e estagiário na Procuradoria Geral do Município de Salvador (PGMS). Anteriormente, fez estágio na no Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM-BA) e no Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA).
Em nota nas redes sociais, a professora detalhou o episódio: "[...] Fui alvo de ataque misógino, praticado pelo presidente do Centro Acadêmico Ruy Barbosa, Pedro Maciel São Paulo Paixão, por razões da condição do meu sexo feminino e, também, do exercício das minhas funções administrativas de natureza pública,com repetição agressiva e dolosa, e com evidente propósito ofensivo", diz a vice-coordenadora em um trecho da nota.
Além disso, ela reiterou que "as gravíssimas ofensas estão carregadas do ranço da cultura patriarcal que nega a legitimidade da presença feminina em posições de representação e hostilizam, simbolicamente, todas as mulheres que lutam por reconhecimento, respeito e igualdade dentro da academia, do serviço público e nos próprios caminhos da sua existência".
Confira a nota na íntegra:
O que disse Pedro Maciel e o CARB
Na tarde desta quarta-feira (15), o estudante Pedro Maciel, acusado de misoginia, se posicionou de forma conjunta com o Centro Acadêmico Ruy Barbosa (CARB), instituição na qual é presidente.
Em nota, o CARB disse que "é imprescindível que a verdade dos fatos seja estabelecida com responsabilidade, sob pena de se cometer grave injustiça contra um estudante que, no exercício de sua representação, vem sendo acusado publicamente por um ato que não ocorreu da forma como vem sendo difundido".
A instituição disse ainda na nota que o áudio em que Pedro Maciel expressa o termo "vadia", durante três vezes, não foi direcionado à professora Juliana Damasceno. De acordo com o CARB, o estudante acusado era interrompido por conversas e provocações entre colegas durante a reunião.
"Em um momento de desatenção e estresse, com o microfone aberto por descuido, reagiu a um colega próximo. A expressão, embora inadequada, não integrou, em nenhum momento, qualquer ataque à docente ou a qualquer outra mulher", completa.
O estudante juntamente com o CARB afirmam que, após o episódio, Pedro Maciel buscou confirmar se as palavras ditas haviam sido captadas durante a reunião e, segundo ele, esclareceu que não haviam sido dirigidas à professora.
Confira a nota na íntegra:
Esse é o segundo pronunciamento do CARB sobre o ocorrido. A primeira declaração, aconteceu um dia após o fato. A organização disse que "o conteúdo reproduzido não reflete, em nenhuma hipótese, o pensamento, os valores ou a postura do CARB".
Confira na íntegra o posicionamento:
A repercussão do caso
Estudantes e outras pessoas ligadas à UFBA emitiram descontentamento após a nova nota do CARB defender o estudante Pedro Maciel. Alguns perfis chegaram a classificar o posicionamento com "vergonhoso", "absurdo" e classificaram a gestão do centro como "personalista".
Anteriormente, os estudantes da instituição também se manifestaram através de cartazes e materiais colados em pontos de circulação da UFBA. Alguns dos materiais diziam: "E se sua mãe fosse chamada de vadia no local de trabalho?".
O que disse a Faculdade
A Faculdade de Direito da UFBA se pronunciou com repúdio ao caso e prestou solidariedade à vítima. Além disso, a instituição afirmou também que solicitou apuração com rigor e abertura de processo administrativo disciplinar contra o responsável pelas palavras ofensivas.
Veja a nota na íntegra: