Fiocruz mostra que 73% das mortes violentas entre jovens atingem negros
Pesquisa detalha diferenças de gênero e vulnerabilidade de jovens com deficiência
Por: Iago Bacelar
25/08/2025 • 17:38 • Atualizado
Um estudo da Fiocruz mostra que jovens negros representam 73% das mortes por causas externas no Brasil, evidenciando desigualdade racial e social. O levantamento, chamado 1º Informe Epidemiológico sobre a Situação de Saúde da Juventude Brasileira: Violências e Acidentes, utiliza dados do SUS e do IBGE de 2022 e 2023.
O coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, afirmou que a idade, raça e território precisam ser considerados em estratégias de enfrentamento da violência. “A idade, a raça e o território precisam ser considerados em qualquer estratégia de enfrentamento da violência e isso diz respeito ao Estado como executor de políticas públicas, mas também as diferentes instituições sociais”, disse.
Diferença racial e impacto por idade
O relatório mostra que jovens negros (pretos e pardos) correspondem a 54,1% das vítimas notificadas de violência no SUS, com taxa de mortalidade de 185,5 óbitos por 100 mil habitantes, 22% acima da média da juventude e mais de 90% superior à registrada entre jovens brancos e amarelos.
Entre adolescentes de 15 a 19 anos, os índices são:
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Negros: 161,8 óbitos por 100 mil habitantes
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Indígenas: 160,7 óbitos por 100 mil habitantes
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Brancos: 78,3 óbitos por 100 mil habitantes
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Amarelos: 80,8 óbitos por 100 mil habitantes
Esses números mostram que negros e indígenas morrem quase duas vezes mais por causas externas do que brancos e amarelos na mesma faixa etária.
Diferenças de gênero
A mortalidade entre homens jovens é oito vezes maior que entre mulheres, com pico entre 20 e 24 anos, quando a taxa atinge 390 mortes por 100 mil habitantes. Já as mulheres jovens aparecem como principais vítimas de agressões registradas no SUS, especialmente entre 15 e 19 anos.
No Distrito Federal e Espírito Santo, há aproximadamente 1 caso de violência para cada 100 jovens (1.022 no DF e 993 no ES). O estudo aponta que 23,7% das ocorrências têm motivação de sexismo, predominando entre jovens de 25 a 29 anos.
Armas de fogo e cenário das mortes
Para homens, as mortes ocorrem majoritariamente nas ruas (57,6%), com armas de fogo como principal causa. Para mulheres, os óbitos acontecem mais dentro de casa (34,5%), com armas de fogo, objetos cortantes e enforcamento, estrangulamento e sufocação como causas relevantes.
Jovens com deficiência
Jovens com deficiência representam 20,5% das notificações de violência no SUS, acima da média da população geral (17,6%). As deficiências mais vulneráveis estão relacionadas à saúde mental, transtornos de comportamento e deficiência intelectual.
André Sobrinho afirmou que o cenário reflete desigualdade social e precariedade de trabalho. “É uma faixa etária cujas expectativas sociais depositadas falam de vigor, vitalidade, de ser produtivo. Mas, na realidade, vemos os jovens desafiados em trabalhos precários, conciliando jornadas extenuantes, com impactos na sua saúde física e mental. Os jovens PCDs, a depender do tipo de deficiência, sofrem ainda mais, estando mais vulneráveis às situações de violência”, disse.
Novos informes epidemiológicos
O levantamento é o primeiro de uma série de informes planejados pela Agenda Jovem Fiocruz em parceria com a EPSJV/Fiocruz. Novos relatórios devem ser lançados em 2025, aprofundando a análise sobre violência, acidentes e saúde da juventude, visando orientar políticas públicas mais eficazes para reduzir desigualdades.