Tarifa dos EUA ameaça suco de laranja brasileiro
Setor já sente impacto com queda nos preços e incertezas
Por: Victor Hugo Ribeiro
28/07/2025 • 07:00
O plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto pode causar um impacto devastador na indústria citrícola do Brasil. Produtores temem que as fábricas reduzam a produção e que laranjas apodreçam nos pés devido à queda acentuada dos preços e à perda de mercado.
Os Estados Unidos são o principal comprador do suco de laranja brasileiro, adquirindo 42% das exportações, um comércio avaliado em aproximadamente US$ 1,31 bilhão na última safra. Com a iminente tarifa, que representa um aumento de 533% em relação ao imposto atual, a entrada do produto brasileiro no mercado norte-americano será inviabilizada. A ansiedade já é visível no setor, com os preços da laranja no Brasil caindo quase pela metade em relação ao ano anterior, mesmo antes da implementação das tarifas.
Consumidores americanos também sentirão o impacto. Com a produção de suco de laranja nos EUA em seu menor nível em meio século e as importações brasileiras respondendo por metade do consumo, a nova tarifa deve elevar os preços.
O Brasil, responsável por 80% do suco de laranja mundial, será difícil de substituir, especialmente porque a indústria citrícola americana enfrenta problemas como a doença "greening" e eventos climáticos adversos. Grandes empresas como Coca-Cola e Pepsi, que dominam o mercado de suco de laranja nos EUA, também podem ser severamente afetadas. A Johanna Foods, uma distribuidora de sucos, já contestou as tarifas na Justiça.
Novos Mercados e seus desafios
O Brasil enfrentará grandes desafios para substituir o mercado norte-americano. Países com alta renda são os principais importadores de suco de laranja, limitando as opções de novos mercados. Atualmente, o suco brasileiro é exportado para apenas cerca de 40 países, bem menos do que outros produtos como a carne. Barreiras tarifárias em mercados como Índia e Coreia do Sul, e a baixa renda na China, dificultam o acesso. A União Europeia já absorve cerca de 52% das exportações brasileiras, o que inviabiliza que compense as perdas com os EUA.
As opções para as empresas são escassas. A "triangulação" via Costa Rica, já usada por algumas para evitar tarifas atuais, é considerada inviável pela CitrusBR sob as regras da OCDE. Produtores no Brasil, como Fabrício Vidal e Ederson Kogler, expressam temor, pois os preços atuais mal cobrem os custos da colheita, e encontrar novos mercados levará tempo.
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