Copom deve manter Selic em 15% e encerrar ciclo de alta após sete elevações
Expectativa é de estabilidade nos juros e tom vigilante na comunicação do Copom
Por: Iago Bacelar
29/07/2025 • 08:23
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne a partir desta terça-feira (29) para deliberar sobre a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que valerá pelos próximos 45 dias. A expectativa majoritária entre os agentes financeiros é que a Selic permaneça em 15% ao ano, o que deve representar o encerramento do atual ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2024.
conomistas divergem sobre início dos cortes
A decisão de manter a Selic é vista como consenso. No entanto, os analistas seguem divididos sobre quando o Copom iniciará os cortes nos juros. Parte do mercado projeta o início da flexibilização monetária em dezembro de 2025, enquanto outros apontam para um cenário de estabilidade até após o primeiro trimestre de 2026. Há ainda expectativas mais conservadoras, que indicam manutenção da taxa até o fim de 2026.
lta dos juros foi iniciada em setembro de 2024
Na reunião anterior, em junho, o Copom elevou a Selic de 14,75% para 15% ao ano, marcando a sétima elevação consecutiva no atual ciclo. O percentual atual representa o maior nível da taxa desde julho de 2006, quando o país também estava sob o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A ata daquela reunião registrou que a resiliência da economia impôs dificuldade à convergência da inflação à meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, exigindo um aperto adicional.
Inflação ainda é o foco da política monetária
A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. O aumento da taxa encarece o crédito, reduz o consumo e desacelera a economia, buscando conter a alta nos preços. O Copom destacou que os efeitos do atual patamar de juros ainda devem se intensificar nos próximos meses.
“Grande parte dos impactos da taxa mais contracionista ainda está por vir […]. Determinada a taxa apropriada de juros, ela deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas”, destacou o comitê.
BC adota discurso de vigilância
Apesar de sinalizar uma pausa nas altas, o Copom reforçou que seguirá atento à conjuntura econômica. O comitê informou que poderá retomar os aumentos caso considere necessário diante de novos dados.
“Seguirá vigilante”, ponderando “que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.
Projeções das instituições financeiras
Para o economista Leonardo Costa, do ASA, a decisão deve vir acompanhada de uma mensagem firme sobre a manutenção da política monetária por tempo prolongado, citando a atividade econômica resiliente como fator de preocupação.
A Warren Investimentos destaca sinais de desaceleração na economia e melhora dos indicadores de inflação. A corretora aponta que, com a decisão de manter a Selic já precificada, o foco estará na mensagem do Copom. A Warren prevê corte nos juros apenas após o primeiro trimestre de 2026.
“Acreditamos que o Copom deve manter o discurso prudente, reiterando a necessidade de observar os efeitos defasados da política monetária e a importância de manter a taxa em nível restritivo por tempo suficientemente prolongado”, afirma a instituição.
Outro tema que pode entrar na ata, segundo a corretora, é o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com entrada em vigor prevista para esta sexta-feira (1º).
Outras previsões do mercado
O economista André Valério, do Inter, espera manutenção da Selic, sem sinalização sobre quando ocorrerão cortes. Para ele, o início da flexibilização depende da combinação entre inflação mais controlada e desaceleração da atividade econômica, o que pode ocorrer em dezembro.
A equipe do C6 Bank também aposta na manutenção da Selic em 15% até o fim de 2026. O banco ressalta que o BC indicou uma intenção de manter a taxa em nível contracionista por tempo prolongado, o que pode significar estabilidade por cerca de 12 meses.
“Acreditamos ser pouco provável que a Selic suba além dos 15%, mas a mensagem do Copom é importante para calibrar as expectativas do mercado para o futuro”, avaliou a instituição.
Calendário das próximas reuniões do Copom
O Copom se reúne a cada 45 dias para revisar a política monetária. Abaixo, as datas já confirmadas pelo Banco Central para os anos de 2025 e 2026:
Reuniões em 2025
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28 e 29 de janeiro
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18 e 19 de março
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6 e 7 de maio
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17 e 18 de junho
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29 e 30 de julho
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16 e 17 de setembro
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4 e 5 de novembro
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9 e 10 de dezembro
Reuniões em 2026
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27 e 28 de janeiro
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17 e 18 de março
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28 e 29 de abril
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16 e 17 de junho
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4 e 5 de agosto
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15 e 16 de setembro
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3 e 4 de novembro
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8 e 9 de dezembro
A decisão desta semana será acompanhada de perto pelo mercado, especialmente pelo conteúdo da ata e o tom adotado pela autoridade monetária. O cenário mais provável aponta para uma manutenção da Selic em 15% ao ano e discurso voltado à vigilância e prudência diante do cenário econômico.