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Atividade humana aumenta ruído nos oceanos e afeta baleias e golfinhos

Poluição sonora subaquática muda comportamento e ameaça vida marinha

Por: Iago Bacelar

15/07/202500:00

O ruído subaquático gerado por atividades humanas tem se intensificado nas últimas décadas, afetando diretamente a vida de diversas espécies marinhas. Estimativas apontam que até 250 mil embarcações estejam em operação simultaneamente nos oceanos, emitindo sons que podem ultrapassar os 190 decibéis.

Atividade humana aumenta ruído nos oceanos e afeta baleias e golfinhos
Foto: Christian Harboe-Hansen/BBC

Estudos mostram que o som é fundamental para a sobrevivência de espécies marinhas como baleias, golfinhos e peixes, sendo utilizado para orientação, comunicação, reprodução e busca por alimento. Sons naturais como o das ondas, ventos e animais formam o ambiente acústico marinho, mas vêm sendo ofuscados por motores de navios, detonações submarinas, sonares e traineiras.

Baleias interrompem alimentação com o som de sonares

O professor Patrick Miller, da Universidade St Andrews, na Escócia, afirma que o ruído emitido por sonares navais e outras fontes humanas é percebido pelas baleias como uma ameaça, semelhante à de predadores naturais. Ele integrou uma pesquisa no Ártico que usou sensores por ventosa para monitorar o comportamento das baleias.

"Quando ouviram os sons do sonar, elas pararam completamente de se alimentar, e se afastaram por vários dias", explicou o pesquisador

O estudo concluiu que as baleias passaram a optar por "viver em vez de jantar", abandonando zonas ricas em alimento devido ao barulho. Isso compromete a ingestão de energia e o equilíbrio do ecossistema.

Golfinhos 'gritam' para se comunicar

Outro estudo, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, indicou que os golfinhos aumentam o volume e a duração dos seus assobios em ambientes ruidosos. Ainda assim, enfrentam dificuldade para cooperar e manter a comunicação em grupo.

"Os cetáceos enviam e recebem sons complexos para se comunicar uns com os outros, navegar pelas águas, encontrar alimentos e muito mais", aponta a pesquisadora Lindy Weilgart, consultora da organização Oceancare

Ela destaca que todos os animais marinhos são acústicos e que a audição é o principal sentido desses animais.

Ruído se propaga com facilidade no oceano

Na água, o som se propaga a 1.480 metros por segundo, mais rápido que no ar. Esse fenômeno permite que os sons viajem por grandes distâncias sem perda significativa de intensidade, o que amplia o impacto da poluição sonora marinha.

Em 2006, pesquisadores da Universidade de San Diego registraram aumento de até 12 decibéis nos níveis médios de ruído em comparação com medições da década de 1960. A elevação, segundo os cientistas, acompanha o crescimento da atividade humana no oceano.

Sonar de baixa frequência pode afetar milhões de quilômetros

Os canhões de ar comprimido usados em atividades de prospecção de petróleo e gás podem gerar sons de até 260 decibéis, que se propagam por até 4.000 quilômetros. Weilgart alerta que sons de 120 decibéis — equivalente ao de um trovão — são suficientes para perturbar cetáceos.

"O sonar ativo de baixa frequência pode afetar 3,9 milhões de quilômetros quadrados", afirma a pesquisadora

O impacto foi comprovado em um estudo de 2013 que relacionou pesquisas sísmicas à mortalidade em massa de narvais presos no gelo, no Canadá e na Groenlândia.

Encalhes estão associados ao barulho

Casos de encalhes de baleias em várias partes do mundo têm sido associados ao uso de sonares navais. Em 2015, a Marinha dos Estados Unidos limitou o uso de certos sonares após constatar os riscos para baleias e golfinhos nas regiões próximas ao Havaí e Califórnia.

A exposição prolongada ao barulho aumenta os níveis de estresse dos cetáceos e pode prejudicar seu sistema imunológico e reprodutivo. A pesquisadora Weilgart relata a necessidade de silêncio até mesmo para estudos subaquáticos com cachalotes, que demonstram reações ao menor ruído humano.

Falta de regulação global preocupa especialistas

Atualmente, não há regulamentação internacional efetiva para o controle de ruídos subaquáticos, apesar de algumas normas regionais e nacionais. A ONG World Wildlife Fund (WWF) afirma que uma redução de 10% na velocidade dos navios já seria suficiente para diminuir os níveis de ruído em 40%.

A comunidade científica defende a adoção de normas globais para limitar a poluição sonora submarina, protegendo os ecossistemas marinhos de um risco crescente que ameaça seu funcionamento natural.