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Cientistas isolam vírus raro em morcegos da América Latina para novos estudos

Descoberta pode ajudar no combate a futuras zoonoses humanas

Por: Victor Hugo Ribeiro

29/07/202518:00Atualizado

Uma pesquisa conjunta realizada por equipes do Brasil, Costa Rica e Europa alcançou um avanço científico significativo: o isolamento e cultivo em laboratório de um vírus do gênero Morbillivirus, parente próximo do vírus do sarampo, encontrado em morcegos da América Latina.

Morcegos
Foto: Divulgação/governo do estado de Santa Catarina

Esse avanço permite o estudo detalhado da estrutura, genética e mecanismos de infecção desses patógenos — que também se assemelham ao vírus da cinomose canina — e abre caminho para o desenvolvimento de novos diagnósticos, medicamentos e vacinas. Isso será crucial caso a doença venha a afetar humanos no futuro. A descoberta é fundamental para ampliar o conhecimento sobre vírus presentes na vida selvagem.

Os dados são fruto de 14 anos de trabalho, que envolveram a coleta e análise de mais de 1.600 morcegos no Brasil e na Costa Rica, incluindo espécies hematófagas (que se alimentam de sangue), frugívoras e insetívoras. Os resultados foram publicados em junho na renomada revista Nature Microbiology.

Embora análises genéticas anteriores já indicassem a presença de Morbillivirus em morcegos, não havia registro do isolamento direto do vírus, o que dificultava a compreensão da biologia viral e dos riscos de infecção em outras espécies.

Doença Restrita a Morcegos, Mas Vigilância é Essencial

A equipe conseguiu sequenciar o material genético completo de diferentes linhagens virais, identificando como uma delas interage com as células do hospedeiro. Altas concentrações virais foram detectadas nos rins, pulmões, fígado, intestino e coração dos morcegos, sugerindo infecções sistêmicas não letais, semelhantes às observadas no sarampo em humanos.

Contudo, o biólogo Luiz Gustavo Góes, do Instituto Pasteur de São Paulo, afirmou à Agência Fapesp que, no momento, o vírus não é capaz de infectar humanos. “Por meio do isolamento de células, observamos que esse vírus não consegue utilizar o receptor CD150 humano, o que é uma informação muito boa”, explicou.

Apesar disso, os pesquisadores alertam para a necessidade de vigilância contínua, pois “como todo vírus, existe a possibilidade de adaptação”, segundo Góes. A equipe também identificou vírus semelhantes em macacos silvestres mortos no Brasil, com análises genéticas indicando possível origem em morcegos e a capacidade de transmissão entre diferentes espécies.