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Larissa Luz faz resgate musical em show no Sangue Novo; “Rock é preto!”

Cantora trouxe ao público baiano seu “Rock in Gil”

Por: Gabriel Pina

21/10/202508:00

Neste último final de semana, aconteceu no Trapiche Barnabé, em Salvador, o festival “Sangue Novo”, um dos mais aguardados do ano na capital baiana. O evento, já consagrado na cena de festivais de música do Brasil, chegou à sua sétima edição com uma line-up que se preocupou em trazer diversidade para os palcos.

Larissa Luz
Foto: Gabriel Pina/Portal Esfera

Segundo informações da produção, cerca de 40% das atrações de 2025 são artistas baianos. Além disso, 80% são pessoas LGBTQIAPN+, mulheres e artistas pretos(as) e pardos(as). Mas engana-se quem pensa que o fazer político se limitou aos bastidores do evento. Dentre as performances, a apresentação da cantora baiana Larissa Luz trouxe para o público um verdadeiro resgate da musicalidade negra.

Cria do Nordeste de Amaralina, a soteropolitana alcançou o grande público em 2007, quando assumiu os vocais da banda Ara Ketu, após a saída de Tatau, permanecendo por cinco anos, até seguir carreira solo em 2012. Desde então, Larissa tem se reinventado a cada novo projeto, conquistando seu espaço na atuação, com o aclamado musical ‘Elza’, de 2018, que lhe rendeu o prêmio APCA de Melhor Atriz em Musical, além de se firmar como apresentadora, participando do programa Saia Justa, da GNT. 

“Isso é cultura negra. A cultura negra é reggae, é samba, é ijexá e é rock. Não é uma coisa só. Então eu vou fazendo o que me move dentro desse universo, descobrindo sobre mim, sobre minha gente, sobre minha ancestralidade. São coisas diferentes e eu simplesmente deixo elas transbordarem”, contou Larissa ao Portal Esfera.

Nesse sentido, para sua apresentação no Sangue Novo, a cantora não poderia fazer diferente e trouxe seu show "Rock in Gil", que incorpora canções de rock gravadas por Gilberto Gil, como "Punk da Periferia" e "Pessoa Nefasta". Logo no início da apresentação, o telão já denuncia o que vem por aí: “Rock in Gil: o Rock é preto!”.

Foto: Gabriel Pina/Portal Esfera

Foto: Gabriel Pina/Portal Esfera


“Eu sempre curti as músicas rock de Gil. Sempre fui roqueira, desde a adolescência. Então sempre fiquei com vontade de fazer esse recorte na obra dele. E depois de um tempo, eu fui pesquisando a história do rock e entendendo o papel da música negra dentro da construção do gênero, que é a verdadeira origem do rock, mas que foi pouco creditada. Gil construiu um legado dentro do rock nacional”, contou a artista.

Com origem nos anos de 1940, nos Estados Unidos, os primeiros acordes do rock são de uma artista negra. Sister Rosetta Tharpe, considerada a mãe do rock, é a responsável pela gravação do gênero, com a canção “Strange Things Happening Every”, de 1945. Logo, a guitarra se tornou arma de resistência contra a segregação racial que perdurava no país naquele período. Apesar disso, o nome de Sister Rosetta muitas vezes é intencionalmente esquecido quando rememorado as raízes do gênero. Mas, o resgate dessa origem é incorporado por Larissa em sua apresentação.

“Eu sempre quis fazer da minha arte uma ferramenta política. É inerente à minha existência. Como diria Nina Simone, todo artista tem que refletir sobre seu tempo. Então, essa é a minha contribuição. Me sinto feliz”, destacou a cantora.

Além disso, a apresentação de Larissa também foi marcada pelo agito do público, que foi contagiado com a presença de palco da artista. Um dos pontos altos da noite foi na performance de "Menina Baiana", que ganhou uma roupagem heavy metal. Antes do refrão, a cantora organizou uma roda punk no meio da pista, fazendo o público pular para dentro quando dado o momento auge da música.

“Não é fácil ser artista no Brasil de hoje. É uma missão se manter acreditando em você, ainda sendo uma artista mulher, preta, baiana. Tem muitos desafios no meio do caminho. Então, quando eu vejo as pessoas trazendo de volta para mim alguma emoção, algum sentimento, eu sinto que valeu a pena ter insistido e ter continuado”, completou.

 

Setlist "ROCK IN GIL" - Sangue Novo 2025

  1. Rock do Segurança
  2. Back in Bahia
  3. Realce
  4. Punk da Periferia
  5. Pessoa Nefasta
  6. Divino Maravilhoso
  7. Barracos
  8. Alapalá
  9. Barato total
  10. Toda menina
  11. Ritual Baile
  12. Palco