Show de Núbia e Muzenza marca encontro reggae da Bahia e Maranhão
No festival AFROPUNK Brasil, artista conversou com o Portal Esfera
Por: Gabriel Pina
11/11/2025 • 09:00
Em 1969, o cantor jamaicano Jimmy Cliff desembarcava no Brasil pela primeira vez para tocar no Festival Internacional da Canção (FIC), onde defendia a canção “Waterfall”. A música se tornou um enorme sucesso, fazendo o público conhecer mais o repertório do artista, o que levou ao primeiro contato do Brasil com o reggae.
Já em 1972, o baiano Caetano Veloso lançava a primeira faixa com elementos do gênero no Brasil, "Nine Out The Ten", presente no álbum "Transa". Nos anos seguintes, o gênero foi cada vez mais incorporado, se popularizando de vez no país, em especial nas periferias dos estados da Bahia e do Maranhão, sendo a capital desta última, São Luís, conhecida como “Jamaica brasileira”.
Nesse sentido, nada mais celebrativo que trazer para o palco do maior festival de cultura preta do mundo, um show que une o reggae da Bahia e do Maranhão. O festival AFROPUNK Brasil trouxe na sua line-up a cantora maranhense Núbia, considerada um dos principais nomes da nova geração do reggae nacional, que convidou o bloco afro baiano Muzenza, tido como um dos responsáveis pela popularização do samba-reggae.
O encontro abriu a primeira noite do evento, levando ao público um verdadeiro espetáculo de celebração das raízes do reggae brasileiro. O Portal Esfera foi ao AFROPUNK e conversou com a cantora Nubia sobre a participação no festival, além da atual cena reggae no Brasil. Confira:
Foto: Gabriel Pina/Portal Esfera
O show marcou um encontro lindo entre gerações e regiões do reggae. De que forma essa cena reggaeira na Bahia vai influenciar a sua arte?
“O fato de eu estar fazendo reggae hoje tem muita influência das pessoas que vieram antes. A jamaica brasileira tem um papel muito forte na minha vida, mas acho que depois dela vem a Bahia. Gilberto Gil foi um dos grandes nomes responsáveis por levar esse gênero. Além de trazer o som da rua para os palcos, algo que veio também dos blocos afro, na criação do afroreggae.”
Como foi a experiência de trazer o reggae do Maranhão para a Bahia?
“Trazer o reggae que é feito no Maranhão para a Bahia, num palco como esse, é muito acolhedor. É a cultura preta, né? Eu sou uma mulher preta, que veio do Maranhão, que é uma terra preta. Então, trazer essa cultura para cá e conseguir colocar num palco desse, com dignidade e visibilidade, além de pessoas que estão ali para ouvir o que a gente tem para falar, traz um pouco de esperança."
Enquanto artista, como você reage ao ver o público curtindo e cantando no show?
“O som está chegando, a mensagem está chegando e a gente está sendo recebido também. E isso volta para a gente como força para continuarmos na caminhada”
Qual a importância de que os festivais de música adotem mais atrações do reggae em suas line-up?
“Esse som tem que estar nesses lugares, porque é um som que faz vibrar, que faz curtir, que faz a galera desopilar. Eu acho que a música jamaicana é uma das que mais influenciam a música feita no mundo, então ela pode deixar de estar nesses lugares. E eu espero que nas próximas edições tenha ainda muito mais reggae”.
Como você enxerga a cena reggae atualmente?
“Acho que está rolando um movimento de volta da cultura reggae. Ela sempre esteve aí, desde que existiu. Mas, é um ritmo que infelizmente ainda é marginalizado. É um ritmo que fala muito de política, muito de amor, de paz. Mas, mesmo assim, no cotidiano, ele ainda é muito marginalizado”
