Kazuhiko Torishima, um nome lendário na indústria de mangás, é reconhecido por seu papel como editor na famosa revista Shonen Jump. Ele foi mentor de ninguém menos que Akira Toriyama, influenciando diretamente obras icônicas como Dr. Slump e Dragon Ball. Sua visão foi crucial para moldar o foco em lutas de Dragon Ball e para a escolha de Arale como protagonista em Dr. Slump.

Curiosamente, a história de One Piece com Torishima começou com uma rejeição. Quando a obra, ainda com o título Romance Dawn, foi submetida, Torishima a recusou três vezes. Ele não criticava a história ou os personagens, que ele considerava excelentes. Sua insatisfação residia na forma como o mundo era apresentado: a diagramação, o arranjo dos quadros e a fluidez visual. Ele argumentava que a narrativa, por melhor que fosse, perdia impacto se não fosse apresentada com clareza e ritmo adequados.

Essa crítica, feita décadas atrás, parece mais relevante do que nunca. Para muitos fãs, à medida que One Piece cresceu em escala, a qualidade da diagramação tem sido sacrificada. As páginas dos capítulos semanais frequentemente parecem caóticas e sobrecarregadas de informações, tornando a leitura cansativa. A complexidade do mundo, com inúmeros personagens e subtramas, exige um espaço que as páginas não conseguem mais comportar.

Um exemplo recente e marcante desse problema é a história de Loki, o príncipe de Elbaf, no capítulo 1154. Sua infância trágica, marcada por abuso e sofrimento, culmina em uma tentativa de suicídio após ele ver uma cena de amor materno que lhe faltou na vida. Essa reviravolta emocional, que deveria ser um momento de grande peso, foi contada em menos da metade de uma página, espremida entre outras informações. A diagramação inadequada diluiu o impacto e a sensibilidade de um evento tão sério.

Torishima acredita que esse declínio na qualidade é resultado da falta de rigor editorial. Ele sugere que, ao contrário do passado, os editores de hoje podem não ter a força para pressionar o autor a manter a qualidade visual. "Minha insatisfação não é tanto com One Piece em si, mas com as políticas editoriais da Shonen Jump", afirmou ele. Torishima deixa claro que a questão não é o talento de Eiichiro Oda, mas a forma como a história está sendo conduzida, perdendo parte de sua identidade e zelo original.

Essa é, sem dúvida, uma visão dura, mas muitos fãs concordam que é uma crítica válida e necessária. No entanto, é possível que essa queda na qualidade visual seja um mal necessário. Com a imensa quantidade de pontas soltas e novas histórias em One Piece, talvez a única maneira de o mangá ser concluído seja sacrificar o ritmo e a clareza em favor da progressão da história. Independentemente disso, One Piece continua sendo uma das maiores criações da história da indústria de mangás.